Concertino para clarinete em Mi bemol maior, op. 26

Carl Maria von Weber

(1811)

Instrumentação: Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Carl Maria von Weber estava predestinado a ser um músico prodígio: desejo de seu pai, o empresário teatral Franz Anton, que vislumbrava no filho um segundo Mozart. O jovem Weber teve os estudos dificultados pela vida errante junto à trupe da qual seu pai era diretor e só conseguiu ter uma formação musical séria durante a adolescência, estudando com os compositores Michael Haydn e Padre Vogler. Seus progressos foram notáveis: aos dezessete anos já havia composto duas óperas e, aos dezoito, tornou-se Kapellmeister em Breslau. Em seguida, Weber mudou-se para Stuttgart, onde saboreou a glória e a ruína: trabalhou para o duque Ludwig de Württemberg, irmão do rei Frederico I, porém fez dívidas, foi preso – por culpa de seu pai – e banido do reino de Württemberg.

 

Entre 1811 e 1813, Weber embrenhou-se por toda a Europa atuando como pianista, compositor, maestro e crítico musical. Em sua primeira parada, Munique, a mais promissora, tornou-se amigo de artistas como o escritor E.T.A. Hoffmann e o eminente clarinetista Heinrich Bärmann. Para este, Weber compôs seu Concertino para clarinete e orquestra, obra que marcou o restabelecimento de sua carreira artística e que foi estreada por Bärmann junto à Orquestra da Corte de Munique, sob a regência do compositor. Presente ao concerto, o rei Maximiliano II da Baviera demonstrou sua satisfação ao encomendar a Weber dois concertos para clarinete. Nasceu assim uma das colaborações mais importantes entre compositores e clarinetistas da história musical, iniciada por Mozart e Anton Stadler, Louis Spohr e Simon Hermstedt, e seguida, no Romantismo, por Brahms e Richard Mühlfeld. Além do rei bávaro, muitos músicos pediram concertos a Weber, que se tornou um habilidoso compositor de obras concertantes para os mais variados instrumentos. Na última década de sua curta vida, Weber tornou-se o grande compositor dramático que foi, segundo Sergio Magnani, “o verdadeiro criador do teatro musical romântico da Alemanha”, autor da ópera Freischütz.

 

O Concertino de Weber é uma obra compacta – introdução, tema e pequeno grupo de variações – estruturada em um único movimento. Este viria a servir de alicerce para o Segundo concerto para clarinete, de escrita mais substanciosa, composto no mesmo ano e na mesma tonalidade de mi bemol. Ambas as obras exigem do clarinete grandes saltos melódicos de duas, três e até quatro oitavas, não raro dificultados por contrastes de intensidade, além de escalas e arpejos que correm caprichosamente por toda a extensão do instrumento. Weber usou nos concertos para clarinete um tom quase operístico-declamatório para delinear grupos temáticos principais e passagens virtuosísticas secundárias.

 

Em 1831, cinco anos após a morte de Weber, o clarinetista Heinrich Bärmann, também compositor, escreveu uma elegia para clarinete e coro masculino e a executou em um concerto em homenagem ao amigo. A música continha o seguinte poema: “Ele se foi, daqui se aposentou o criador destes sons! Este grande mestre ensina agora o coro dos anjos, enquanto vive na Terra, para sempre, a sua canção!”.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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