Concerto para piano nº 1 em fá sustenido menor, op. 1

Sergei RACHMANINOV

(1891 | Versão final, 1919)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, cordas.

 

O Concerto para piano nº 1 possui o vigor e a energia próprios de Rachmaninov. Trata-se de uma obra de juventude que o autor compôs aos dezoito anos de idade, enquanto ainda aluno do Conservatório de Moscou. A estreia, apenas do primeiro movimento, deu-se em 17 de março de 1892, no Conservatório, com a orquestra de alunos sob a regência do diretor, Vasily Safonov, com Sergei Rachmaninov ao piano. A versão que hoje conhecemos é de 1917, após a extensiva revisão que Rachmaninov fez do Concerto, meses antes de deixar a Rússia. A nova versão foi apresentada pela primeira vez em Nova York, em 1919, pela Sociedade Sinfônica Russa sob a direção de Modest Altschuler, tendo igualmente o compositor como solista.

 

O intenso diálogo entre o piano solista e a orquestra é a marca registrada do primeiro movimento (Vivace), com a brilhante escrita virtuosística típica do compositor. No segundo movimento (Andante), os temas confiados ao piano, que reina praticamente absoluto, são de um lirismo ímpar, apenas encontrados nas mais belas páginas do próprio Rachmaninov. O terceiro e último movimento (Allegro vivace) é feito de esfuziante energia. Música intensa, cheia do entusiasmo da juventude, que o compositor soube manter, mesmo após as severas revisões realizadas na obra.

 

Apesar do enorme sucesso alcançado no século XX – tanto por seus concertos como por suas sinfonias, sua música para solista, música de câmara, óperas e música litúrgica –, Rachmaninov foi relativamente negligenciado pelos estudos musicológicos ocidentais, em razão do preconceito vigente, que o considerava um compositor ultraconservador, um homem do século XIX vivendo em pleno século XX. Em um século praticamente todo dividido entre “progressistas” e “conservadores”, as melhores considerações foram sempre reservadas aos ditos “modernos” e a sua música de caráter experimental e revolucionário, enquanto as conquistas de seus antagonistas eram atenuadas, por serem eles avaliados, de antemão, como “menos originais” que seus pares.

 

A concepção de que a música de Rachmaninov pertence ao século XIX é um daqueles erros históricos que acabaram tornando-se verdades absolutas de tanto serem repetidos. Na verdade, Rachmaninov jamais se preocupou com as oscilações da moda e procurou apenas seguir seu próprio caminho individual. Sua música foi nada mais que a expressão sincera de sua personalidade, seus sentimentos e ideias. Escreveu sobre seus contemporâneos: “A nova música parece vir não do coração, mas da mente. Seus compositores pensam, ao invés de sentir. Eles não têm a capacidade de fazer obras encantadoras, como dizia Hans von Bülow. Eles advogam, protestam, analisam, argumentam, calculam e experimentam – mas não encantam”.

 

Se a música de Rachmaninov é realmente ultrapassada, o mesmo poderia ser dito do gosto de seus milhões de admiradores ao longo de todo o século. Para a crítica especializada, seriam todos um pouco démodés. Mas, sem dúvida, que música encantadora!

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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