Concerto para violino nº 2, op. 22

Henri Wieniawski

Wieniawski nasceu na cidade de Lublin, na Polônia. Aos sete anos de idade já era um virtuose do violino e causava sensação em Varsóvia. Aos oito anos foi aceito no Conservatório de Paris para estudar violino e harmonia. Aos quinze terminava seus estudos no Conservatório. Considerado o maior violinista da geração pós Paganini, Wieniawski passou seus anos seguintes em intermináveis turnês mundo afora. Em 1860, aos vinte e cinco anos de idade, mudou-se para São Petersburgo, a convite do pianista e regente Anton Rubinstein, o qual estava determinado a melhorar as condições musicais da Rússia. Permaneceu na Rússia até o ano de 1872 e foi o responsável pelo estabelecimento e desenvolvimento da escola russa de violino.

 

Em 1872, Wieniawski fez uma turnê pelos Estados Unidos com Rubinstein. Muitos americanos não sabiam como pronunciar seu nome apropriadamente, uma vez que o “w”, em inglês, tem um som próximo ao som de “u”. Alguns o chamavam de “Wine and Whisky”. Ao final daquele ano, após 200 concertos, ambos estavam à beira da exaustão. O cachê de Wieniawski era de aproximadamente 100 dólares por concerto, enquanto Rubinstein ganhava o dobro. Em valores de hoje, 100 dólares são algo em torno de 1.500 dólares. Ao final de um ano, Wieniawski recebeu a quantia de 20.000 dólares e, Rubinstein, 40.000, ou seja, 300.000 e 600.000 respectivamente, em valores de hoje. Embora possa parecer que se trata de muito dinheiro, 1.500 e 3.000 dólares são cachês modestos para músicos como Wieniawski e Rubinstein. Hoje, um músico da mesma grandeza recebe de dez a vinte vezes mais o que um músico da época recebia. Por isso, os músicos precisavam dar inúmeros concertos para compensar os baixos pagamentos. Como não bastassem os cachês modestos, Wieniawski, que tocava violino maravilhosamente bem, era péssimo no jogo de cartas. Durante as intermináveis viagens e inúmeras noites em hotéis pelo país, os dois músicos passavam o tempo livre jogando cartas, o que demonstrou ter sido um péssimo negócio para Wieniawski. Ao final, Rubinstein acabava levando o cachê de ambos. Quando, no fim da vida, Wieniawski encontrou-se sem dinheiro, em uma cama do Hospital Mariinsky, em Moscou, Rubinstein foi ao seu auxílio e enviou-lhe um cheque de 1.000 dólares (15.000 em valores atuais) para pagar-lhe o seguro de vida que estava prestes a expirar e para ajudar a família do violinista com as despesas de saúde.

 

Após o primeiro ano nos Estados Unidos, Rubinstein retornou à Europa, enquanto Wieniawski ficaria para mais um ano de inúmeros concertos. Sua exaustiva turnê americana contribuiu para a deterioração de sua saúde. Wieniawski sofria de problemas do coração e teve de abandonar os concertos por algum tempo. Em 1875 tornou-se professor de violino no Conservatório de Bruxelas, mas, dois anos depois, estaria de volta às intermináveis turnês. A vida que ele amava era a vida dos concertos.

 

Wieniawski começou a composição de seu Concerto para violino e orquestra no 2 em 1860, assim que chegou a São Petersburgo, a convite de Anton Rubinstein. A primeira execução do Concerto deu-se em São Petersburgo, em 27 de novembro de 1862, com o compositor ao violino e regência de Rubinstein. Dois dias depois, o compositor russo César Cui, em uma carta a Balakirev, dizia: “eu ainda não consegui me recuperar do impacto daquele primeiro Allegro”. Wieniawski compunha apenas para seu instrumento. Como compositor, foi além de Paganini. Soube combinar perfeitamente bem os avanços técnicos do instrumento com a imaginação romântica, aliados a uma acurada técnica composicional. Seus coloridos orquestrais são ímpares e suas melodias possuem um inconfundível sabor eslavo.

 

Guilherme Nascimento
Doutor em Composição, professor de Música da UEMG e da Fundação de Educação Artística, autor do livro Música menor.

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