Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 50

Nikolai Medtner

(1927)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

Nicolas Medtner é o membro menos conhecido da trindade de pianistas-compositores russos da Era de Ouro, constituída também por seus contemporâneos Alexander Scriabin e Sergei Rachmaninov. Ao contrário de Rachmaninov, Medtner raramente deixou a emoção guiar sua obra, talhada nos moldes germânicos de Beethoven e Brahms, sendo apelidado de “Brahms russo”. Pessoalmente, era avesso à fama e desapegado aos bens materiais, o que por vezes deixou-o em situação difícil. Entre sua produção, cada vez mais conhecida, estão as 38 peças para piano denominadas Contos de Fadas, que se referem à capacidade de contar histórias que possui a música sem palavras, como tentativa de se tornar uma linguagem narrativa. Dar significado ao signo musical pode ser complexo, visto que implica transcender seu próprio conceito, limitado ao som pré-organizado. Mas, a mágica dos sons abstratos do dificílimo piano de Medtner está fora do alcance de quem ouve, vê ou tenta imaginar histórias: ela reside em sua gênese, o teclado do piano, e é percebida somente pelo pianista que, trilhando os caminhos do parnasso, pôde descobrir uma escrita milagrosamente desenhada para a mão humana. Em suas aparições públicas, Medtner tocava como se estivesse em transe; com os olhos semicerrados e o mínimo de gestos, em comunhão quase religiosa com a música. “Eu não quero comunicar meus pensamentos em música e sim minha fé na música. Um tema musical é, acima de tudo, intuição. Ele é adquirido, não inventado”, escreveu Medtner em seu livro A Musa e a Moda, publicado em 1935 com a ajuda de Rachmaninov.

 

Nicolas Medtner nasceu na noite de Natal e por isso recebeu o nome do padroeiro São Nicolau. Durante a Revolução Russa, apaixonou-se e foi correspondido por Anna, esposa de seu irmão Emil que, por viver distante, acabou por consentir com a união entre os afins. A saída de Medtner da Rússia e seu estabelecimento em Londres nos últimos 16 anos de vida, somados às muitas viagens, só foram possíveis através da generosidade de Rachmaninov, que muito o admirava e que lhe dedicou seu Quarto Concerto para piano.

 

Em retribuição, Medtner dedicou-lhe a sonata O vento da noite e o Concerto para piano nº 2, composto e estreado em 1927, tendo o autor como solista, sob a regência do irmão, Alexander, na Grande Sala da Filarmônica de São Petersburgo. Como num conto de fadas, Nicolas Medtner foi descoberto e apoiado financeiramente pelo Marajá de Mysore, entusiasta da música ocidental e pianista amador. Hoje podemos ouvir as gravações de Medtner executando seus três concertos para piano graças à Medtner Society e à Philharmonia Orchestra, fundadas e patrocinadas pelo devotado marajá indiano.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela UFMG e professor na UEMG.

anterior próximo