Suíte Ibéria

Isaac Albéniz

Orquestração: E. F. Arbós

(1905/1909)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, saxofone, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, celesta, cordas.

 

Albéniz iniciou sua carreira de pianista como menino prodígio. Com apenas quatro anos, apresentou-se no Teatro Romea de Barcelona e, desde então, conquistou extraordinária fama mundial. Recebeu elogios e orientações de Liszt, em Weimar; e estudou com Paul Dukas, em Paris. Embora as longas turnês e viagens de estudos mantivessem-no afastado de seu país por grande parte de sua vida, Albéniz é considerado o iniciador da música espanhola moderna. Ele buscou uma simbiose perfeita entre as verdadeiras raízes da música popular ibérica e a virtuosidade do pianismo romântico. A Suíte Ibéria é o ponto culminante desse projeto. Suas doze peças se estruturam basicamente sobre os elementos populares do ritmo e da copla, ainda que os temas empregados sejam, quase na totalidade, criações originais do compositor. O ritmo identifica-se pelas síncopas e acentuações; a copla constitui a melodia ou tema principal.

 

Após a morte de Albéniz, o violinista e regente Enrique Fernandez Arbós orquestrou algumas peças de Ibéria. Albéniz e Arbós se conheceram adolescentes, quando estudavam no Conservatório de Bruxelas e se tornaram amigos e parceiros, formando um célebre duo.

 

A Suíte Ibéria foi composta na França e inicia-se com Evocación, peça nostálgica em que Albéniz relembra a pátria distante. O caráter espanhol deixa-se impregnar pelo espírito da música francesa da época. O tema introdutório, Allegretto expressivo, se sobrepõe a um acompanhamento sincopado e termina em ritmo de dança. A copla, mais decididamente espanhola, aparece nas notas graves e mantém o mesmo ritmo do tema introdutório.

 

El Corpus en Sevilla é bastante descritiva: inicia-se com os rufos de tambor que anunciam, a distância, a procissão. A seguir, usando diretamente o motivo popular La tarara, Albéniz sugere a aproximação dos fiéis. Apresentado em pianíssimo, esse tema vai crescendo pouco a pouco, juntando o rumor da multidão ao toque dos sinos. Todo o alvoroço festivo é interrompido pela atmosfera suave e meditativa da copla. Mas La tarara retorna com triunfante virtuosismo até ser interrompida por um longo e agudo acorde. Os penitentes se afastam, as ruas ficam vazias e os sinos tocam a distância…

 

Triana homenageia o bairro cigano de Sevilha, domínio do flamenco. Um motivo graciosamente acentuado impõe o ritmo da seguidilla, cuja alegria se alterna com a elegância da cantável copla central.

 

El puerto é a peça mais curta da suíte. O título refere-se ao porto de Santa Maria, aldeia de pescadores em Cádiz. Um sapateado, sobre um ritmo constante, começa suavemente e vai se tornando mais forte, movimentado por uma figuração que sugere o bater de tacões. Desenvolve-se com poesia luminosa e cheia de vida até os delicados arpejos finais.

 

El Albaicín (Allegro assai, ma melancolico) ambienta-se à noite, nesse bairro cigano de Granada. A introdução cria um clima de mistério. Após um silêncio de expectativa, a copla, bastante contrastante, apresenta sua melodia dobrada na oitava inferior. Por várias vezes, como uma queixa, ela se alternará com os sobressaltos dos trechos rítmicos. Após a última recordação da copla na região grave, a peça termina de forma brusca e enérgica.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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