Os legados de Scarlatti e do barroco

José Soares, regente

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BERIO
LEES
LISZT
RESPIGHI
Retirada noturna de Madri
Portfólio Scarlatti
Na Capela Sistina
Os Pássaros

José Soares, regente

Natural de São Paulo, José Soares é Regente Associado da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2022, tendo sido seu Regente Assistente nas duas temporadas anteriores. Venceu o 19º Concurso Internacional de Regência de Tóquio (Tokyo International Music Competition for Conducting 2021), recebendo também o prêmio do público. Bacharel em Composição pela Universidade de São Paulo, iniciou-se na música com sua mãe, Ana Yara Campos. Estudou com o maestro Claudio Cruz e teve aulas com Paavo Järvi, Neëme Järvi, Kristjan Järvi e Leonid Grin. Foi orientado por Marin Alsop, Arvo Volmer, Giancarlo Guerrero e Alexander Libreich no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Pelo Prêmio de Regência recebido no festival, atuou como regente assistente da Osesp na temporada 2018. José Soares foi aluno do Laboratório de Regência da Filarmônica e convidado pelo maestro Fabio Mechetti a reger um dos Concertos para a Juventude da temporada 2019. Em 2023, estreia como convidado da Osesp e de orquestras no Japão.

Programa de Concerto

Retirada noturna de Madri | BERIO

Considerado o principal compositor italiano de sua geração, Luciano Berio foi um dos grandes experimentadores da música orquestral na segunda metade do século XX. Seu espírito inquieto e curioso fez com que se tornasse pioneiro no uso de técnicas eletrônicas de composição e gravação em estúdio e na exploração do espaço de apresentação pelo posicionamento dos músicos. Porém, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, Berio também cultivou o hábito de revisitar trabalhos dos mestres de outrora, criando novos arranjos e adaptações. A Retirada noturna de Madri é a sua interpretação da peça homônima de Boccherini, que, por ter feito muito sucesso na época (final do século XVIII), ganhou quatro versões de seu criador. Todas elas buscam representar uma fuga pelas ruas de Madri, oscilando entre seções silenciosas e ápices de tensão, como se a patrulha noturna da cidade se aproximasse e se distanciasse repetidas vezes. Para sua abordagem, Berio realizou uma colagem das quatro versões de Boccherini, sobrepondo trechos e arranjando-os para orquestra em uma proposta bem particular, que subverte com gentileza e respeito o material de origem.

Filho de pais russos, Benjamin Lees mudou-se ainda criança para os Estados Unidos, onde viveu a maior parte da vida, tendo atuado como professor em diversas instituições a partir da década de 1960. De modo geral, sua obra toma como base as formas clássicas, em uma linguagem sempre tonal, mas que busca explorar ao máximo as possibilidades dessa matriz. Escrita em 1979 para o Balé de São Francisco, Portfólio Scarlatti é uma suíte orquestral construída a partir dos temas de sete sonatas para piano do compositor italiano oitocentista Domenico Scarlatti. Mais do que simplesmente orquestrar as sonatas, Lees conseguiu imprimir seu estilo próprio às obras sem romper com o idioma original, mantendo sua preferência por afastar-se das tendências vanguardistas que intrigavam boa parte de seus colegas à época. Essa característica, comum ao trabalho de Lees como um todo, levou o crítico Carl Dolmetsch a comparar Portfólio Scarlatti às Árias e danças antigas de Respighi e a Le tombeau de Couperin de Ravel. A coreografia do balé ficou a cargo de Lew Christensen e toma como inspiração a tradição bem-humorada da commedia dell'arte.

Na Capela Sistina combina variações de duas obras: Miserere mei Deus, de Gregorio Allegri, e Ave verum corpus, de Mozart. A junção dos trabalhos espelha um curioso episódio. Mozart escreveu sua peça depois de uma visita a Roma quando ainda era criança. Ao lado do pai, ele ouviu uma performance de Miserere mei Deus na própria Capela Sistina, durante a Semana Santa. O trabalho de Allegri era de propriedade exclusiva do coro papal e não tinha autorização para ser publicado. Logo após a audição, Mozart escreveu toda a peça usando apenas sua memória, demonstrando um ouvido sensível e incomparável. A primeira seção do combinado de variações de Liszt é baseada livremente em Miserere mei Deus. O Ave verum corpus oferece um contraste na segunda seção. Miserere é acionada novamente em uma terceira seção, e a obra termina com a simplicidade do Ave verum. Aqui, segundo Liszt, a angústia humana é respondida pela misericórdia infinita do Todo-Poderoso.

Em seus melhores momentos, a música de Ottorino Respighi exibe uma inventividade de orquestração só comparável, em seu tempo, à de Ravel. Nenhum compositor italiano depois de Puccini conquistou tamanha popularidade internacional. E Os Pássaros, de 1928, é sem dúvida alguma um dos melhores trabalhos orquestrais dele. A obra toma evocações de animais feitas por compositores dos séculos XVII e XVIII para sujeitá-las a requintes de orquestração aprendidos por Respighi no estudo de partituras de Richard Strauss e nas críticas de Rimsky-Korsakov a seus trabalhos iniciais (1900-1903). Após o "Prelúdio", baseado em uma ária de Bernardo Pasquini, o compositor nos apresenta quatro pássaros: "La colomba" [A pomba], inspirada por obra do francês Jacques de Gallot; "La gallina" [A galinha], derivado de um trabalho para cravo de Rameau; "L’usignolo" [O rouxinol], a partir de uma melodia inglesa de autor desconhecido; "Il Cucù" [O cuco], último movimento que retoma o tema original de Pasquini.

18 nov 2023
sábado, 18h00

Sala Minas Gerais
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