Serenata

Leonard Bernstein

(1954)

Instrumentação: tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Leonard Bernstein foi um importante regente e compositor norte-americano. De estilo eclético, sua música combina características de jazz e de compositores contemporâneos, como Copland, Stravinsky e Gershwin. Bernstein disse uma vez que todas as suas composições poderiam ser consideradas peças teatrais. A Serenata (segundo “O Banquete” de Platão) é um concerto em cinco movimentos. No livro O Banquete, Platão descreve um diálogo de diferentes personagens sobre o tema do amor, onde cada um fala de uma perspectiva diferente. Os cinco movimentos da Serenata refletem, em seu andamento e caráter, a carga emocional presente na argumentação dos diversos discursos apresentados no debate.

 

I) Phaedrus: Pausanias – Lento e Allegro marcatto
O primeiro movimento inicia-se com um solo de violino, muito leve, no registro agudo. À medida que outras linhas instrumentais vão entrando e se acumulando, o violino solista intensifica seu caráter passional e lírico. Após um clímax, a forma se articula com uma mudança de andamento e caráter. Essa segunda seção, mais rápida e dançante, subdivide-se em trechos diferenciados pela densidade da orquestração. Há seções mais fortes, com caráter festivo e brilhante, alternando-se com outras mais leves, onde o solista se projeta de modo mais claro.

 

II) Aristophanes – Allegretto
O segundo movimento apresenta uma forma do tipo A B A’. Nas seções inicial e final, uma figura melódica em ostinato – com pequenas variações – acompanha o violino solista com frases calmas e sustentadas. Na parte B ouve-se um tema com variações. Sua textura caracteriza-se pela presença de dois planos melódicos complementares, por vezes imitativos.

 

III) Erixymathus – Presto
Esse movimento inicia-se com alternâncias entre solista e orquestra, como em um desafio de virtuosidade. Após a exposição do tema cromático, ouve-se um fugato onde o tema é apresentado sucessivamente em diferentes naipes instrumentais, e outras camadas melódicas são superpostas à textura contrapontística. Após o clímax, o tema é reexposto no diálogo entre solista e conjunto.

 

IV) Agathon – Adagio
O movimento é muito expressivo, evocando algo dos adagios de Mahler. O motivo que havia iniciado a peça retorna, imitado entre violinos e violoncelos, com função de acompanhamento. Sobre esse fundo tranquilo, o solista expõe uma melodia de caráter lírico, no registro agudo. Após um clímax, ouve-se a cadência do solista, sustentado por acordes em trêmolo na orquestra.

 

V) Sócrates: Alcibíades – Molto tenuto e Allegro molto vivace
A “voz” de Sócrates irrompe forte e dramática, em uma textura de acordes dissonantes pontuada pelos sinos. Em uma segunda seção, ouve-se um dueto de violino e violoncelo, cada qual em uma tonalidade diferente. Seria uma metáfora do diálogo amoroso? Após esse momento, a tensão se apazigua, progressivamente. O Allegro molto vivace é um rondó em que um tema rítmico retorna, incessantemente variado, e é intercalado por seções contrastantes. Ouvem-se referências a Stravinsky (A História do Soldado) e mesmo ao jazz.

 

Rogério Vasconcelos Barbosa
Professor da Escola de Música da UFMG.

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