Sinfonia nº 2 em Mi bemol maior, op. 63

Edward ELGAR

(1911)

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.

 

A Inglaterra, que no passado havia dado ao mundo compositores da importância de William Byrd, John Dowland e Henry Purcell, parecia muda no século XIX. No reinado da rainha Vitória, quando aproximadamente um quarto das terras do globo estavam sob seu comando e o Império Britânico era chamado de “o império onde o sol nunca se põe”, os alemães gostavam de zombar da Inglaterra como a única nação culta que não tinha uma música própria. De fato, após Purcell, os ingleses passaram a importar cada vez mais música do continente sem conseguirem que sua produção atravessasse o Canal da Mancha em sentido contrário. Elgar seria o compositor responsável por mudar essa situação.

 

Elgar foi um compositor essencialmente autodidata, que conseguiu dirigir-se a seus compatriotas em uma linguagem, acima de tudo, europeia, e não mais provinciana. Primeiro compositor moderno inglês reconhecido no exterior, ele atingiu o topo da fama em 1899, com o sucesso estrondoso de sua peça Variações Enigma, um sucesso mantido estável nos anos seguintes com as estreias triunfais, entre outras obras, do oratório O sonho de Gerontius (1900), da Sinfonia no 1 (1908) e do Concerto para violino (1910).

 

Sua Sinfonia no 2 foi composta entre outubro de 1910 e 28 de fevereiro de 1911. Como habitual em sua escrita, Elgar lança mão de pequenos fragmentos melódicos que ele habilmente desenvolve ao longo da música através de repetições variadas e de combinações inventivas. O primeiro movimento (Allegro vivace e nobilmente) é dramático, repleto de uma agitação interna que dura até o último compasso. O segundo movimento (Larghetto), de orquestração delicada, apresenta, em seu caráter meditativo, algumas das mais belas melodias de todos os tempos. O Rondo é cheio de uma energia que, em crescendo, contagia toda a orquestra e leva-nos a um final imponente. O quarto movimento (Moderato e maestoso) é grandioso, nobre, lento e melancólico.

 

A primeira apresentação se deu no dia 24 de maio de 1911 com a Orquestra do Queen’s Hall, no Festival Londres, regida pelo compositor. A Sinfonia foi dedicada ao rei Eduardo VII, filho mais velho da rainha Vitória, falecido em maio de 1910. A estreia foi um fracasso, não apenas porque os ingleses ainda choravam a morte do rei, mas, principalmente, porque ainda choravam a morte do Império. A era eduardiana marcou-se especialmente, para os ingleses, por tristeza e frustração pelo desfalecimento daquele que foi o maior império da história e por desejo de fuga para um passado idealizado. A Sinfonia no 2 parece comportar todos esses sentimentos de uma época que não volta mais, embora lide exclusivamente com recordações íntimas do compositor, que nada têm a ver com o abatimento patriótico que assolava o país. A bem dizer, a dedicatória foi de conveniência, mas o conteúdo musical melancólico atingiu em cheio o moral do público. A obra só entraria para o repertório de concerto nos anos 1920.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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