Valse triste, op. 44, nº 1

Jean SIBELIUS

(1903)

Instrumentação: Flauta, clarinete, 2 trompas, tímpanos, cordas.

 

O musicólogo e historiador da música Roland de Candé demarca cartesianamente o início do declínio do espírito romântico a partir de 1840. No entanto, ele salienta que esse declínio não gera movimentos capazes de suscitar uma estética musical nova. Diz Candé que “separado de sua fonte, o romantismo musical prossegue na velocidade adquirida. Berlioz, Liszt, Wagner, Verdi, Gounod prolongaram, até tarde no século, a despeito do racionalismo ambiente, uma estética baseada na intuição, à qual se vinculam Bruckner, Tchaikovsky, Mahler, Sibelius…” (História Universal da Música).

 

Nesse contexto é que surgem as ditas escolas nacionais, como heranças do Romantismo, em que Sibelius deve ser situado. Note-se, porém, que esse tipo de classificação não deve ser tomado à risca, mas sim como movimentos oriundos de centros culturais distantes do polo original em que nasceu o Romantismo e que, esteticamente, buscam materiais musicais arraigados em tradições regionais. Assim, pode-se dizer de uma escola francesa, de uma escola espanhola, de uma escola russa, de uma escola tcheca e de uma escola escandinava, na qual despontam os nomes de Edvard Grieg, Carl Nielsen e Jean Sibelius.

 

A Finlândia de 1899 ainda estava sob domínio russo. Solitária e ameaçada, lutando por sua cultura recôndita em seus lagos e florestas, fará de Jean Sibelius o símbolo de seu nacionalismo. Assim, cada obra sua parece inspirar-se nos poetas de sua terra, em suas epopeias nacionais e em seu folclore. Daí seus poemas sinfônicos, dentre os quais se destaca sua obra-prima, O Cisne de Tuonela, além de outras obras de relevo inegável: o Concerto para Violoncelo, a Quinta Sinfonia, a Valsa triste e outros poemas sinfônicos como Tapiola e principalmente Finlândia.

 

A Valsa triste, célebre por sua beleza e concisão, apresenta traços sintéticos do poema sinfônico. Composta para música de cena de uma peça de teatro do cunhado de Sibelius, Arvid Järnfelt, intitulada Kuolema (Morte), ela acompanha uma cena em que a própria Morte aparece a uma mulher moribunda e com ela dança antes de levá-la consigo. A Valsa triste foi composta em 1903 e revisada um ano depois para publicação.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

anterior próximo