Ralph Vaughan Williams
Instrumentação: 2 flautas, oboé, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, percussão, cordas.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) abriu um insuperável hiato no movimento nacionalista musical inglês que, à época, testemunhava o emergir de sua segunda geração, liderada pelos compositores Gustav Holst e Ralph Vaughan Williams. Ambos herdaram dos compositores Hubert Parry, Alexander Mackenzie e Charles Stanford o interesse pela tradição musical folclórica e pelo repertório pré-clássico, principalmente pelo Barroco inglês e pela música elisabetana. Reação ao domínio da linguagem musical alemã e italiana na Inglaterra do século XIX, o interesse por modelos nacionais arrefeceu durante a guerra, seja porque muitos dos jovens compositores ingleses perderam a vida no campo de batalha ou porque a cena musical nesse período manteve-se sob os auspícios de Sir Thomas Beecham. Regente e empresário, Beechman privilegiou, sobretudo, o repertório operístico e obras modernas de compositores do continente, promovendo muito timidamente as produções de compositores ingleses.
O interesse pela música nacional se reacendeu com o término da guerra e o retorno à Inglaterra, no começo de 1919, de Vaughan Williams, que servira na França. De volta à composição, Williams optou por retomar os projetos anteriores à guerra, ao invés de buscar assimilar as experiências de seus últimos anos através da composição de obras novas. Desse modo, revisou a Fantasia sobre um tema de Thomas Tallis, as sinfonias Londres e Mar, a cantata Em Direção à Região Desconhecida, a ópera Hugh o Boiadeiro e concluiu o romance para violino e orquestra de câmara, A ascensão da cotovia.
Três estrofes de um poema homônimo do poeta vitoriano George Meredith compõem a epígrafe de A ascensão da cotovia. Os momentos mais programáticos da obra ficam por conta dos solos iniciais e finais do violino, que buscam representar musicalmente o canto e o voo do pássaro descritos nos versos de Meredith. Numa evocação à tradição folclórica, o tema da cotovia explora trinados e é baseado numa escala pentatônica, que beneficia a composição com linhas melódicas em arabescos. A obra associa-se à tradição inglesa ao combinar natureza e misticismo e ao alinhar-se aos modelos concertantes barrocos ao invés dos românticos.
Esboçado em 1914, o Romance foi revisado e finalizado em colaboração com a violinista Marie Hall em dezembro de 1920, em King’s Weston, Bristol, casa do benfeitor musical Philip Napier Channel. A peça foi estreada inicialmente num arranjo para violino e piano executado por Hall e Geoffrey Mendham, em 15 de dezembro de 1920, em concerto da Sociedade Coral de Avonmouth em Shirehampton. A estreia da versão com orquestra deu-se em Londres, no Queen’s Hall, pela Orquestra Sinfônica Britânica regida por Adrian Boult e tendo como solista Marie Hall, em concerto do Segundo Congresso da Sociedade de Música Britânica do dia 14 de junho de 1921. A Ascensão da Cotovia tornou-se um dos hinos eletivos do público inglês e marca a transição da linguagem folclórica e pastoral do período de formação de Vaughan Williams para seu período de maturidade.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.