Joaquín Rodrigo
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, cordas.
O gênero Concerto mereceu especial atenção por parte de Joaquín Rodrigo. O compositor valenciano dedicou quinze obras do gênero a eminentes instrumentistas de seu tempo, do quilate de um Gaspar Cassadó (violoncelo), Nicanor Zabaleta (harpa) e James Galaway (flauta), por exemplo. No caso do violão, os nomes não são menos expressivos: por sugestão de Regino Sainz de la Maza, Rodrigo compôs o Concerto de Aranjuez (1939) e, a pedido do mais influente violonista do século XX, Andrés Segovia, escreveu a Fantasia para um fidalgo (1954), baseada em temas do guitarrista espanhol do século XVI, Gaspar Sanz.
Em 1967, o violonista Celedonio Romero encomendou a Rodrigo, para o seu quarteto – o célebre Los Romeros –, uma obra com orquestração sui generis para a época, um concerto para quatro violões com acompanhamento de orquestra. Rodrigo compôs então o Concerto Andaluz.
O Concerto de Rodrigo foi a primeira grande obra escrita para essa instrumentária e rapidamente se incorporou ao repertório do violão, inspirando o aparecimento de outras, como o Concierto Italico de Leo Brouwer ou o Concerto para Quatro Violões e Orquestra de Ronaldo Miranda.
Sua estreia se deu pelo próprio quarteto Los Romeros com a Sinfônica de San Antonio regida por Victor Alessandro, em novembro de 1967, na cidade de San Antonio, Texas, nos Estados Unidos. O grupo Los Romeros, conhecido como Familia Real de la Guitarra, continua tendo importante atuação, especialmente no cenário da música espanhola.
Diferentemente de outras composições de Joaquín Rodrigo, onde há uma construção neoclássica, nesta o compositor insere diretamente elementos da música folclórica andaluza, citando temas populares autênticos, além de esquemas rítmicos característicos e suas atmosferas. Este Concerto pode ser entendido, segundo palavras do musicólogo norte-americano Nicolas Slonimsky, “como uma evocação poética da Andaluzia, com seus sons, suas luzes, a fragrância de suas flores. Os ritmos espanhóis vibram nos bosques andaluzes e as cores instrumentais brilham no sol mediterrâneo, como a música das guitarras ressoa no ar”. O Concerto Andaluz é composto de três movimentos: no primeiro, Tiempo de Bolero, o compositor evoca bailes populares, onde os instrumentos de cordas da orquestra imitam a percussão das castanholas. O segundo movimento – Adagio –, como de costume em outras obras de Rodrigo, é o mais extenso e onde o compositor expõe temas mais amáveis; destaca-se aí uma cadência para os quatro solistas. A obra se encerra com um vibrante e vigoroso Allegretto, que utiliza duas formas de danças do Flamenco: a Sevillana e o Zapateado.
Celso Faria
Violonista, Mestre em Performance Musical pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.