Concerto para piano em lá menor, op. 7

Clara Schumann

(1833/1836)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, trombone, tímpanos, cordas.

Primeira apresentação com a Filarmônica: 10 de maio de 2018 | Fabio Mechetti, regente | Angela Cheng, piano

 

Clara Schumann nasceu em Leipzig, a 13 de setembro de 1819. Batizada Clara Josephine Wieck, foi a segunda criança dos cinco filhos do casal Friedrich Wieck e Marianne Tromlitz. O pai mantinha em sua residência uma espécie de estabelecimento musical, onde lecionava piano e teoria, alugava pianos, vendia partituras e hospedava seus alunos. A mãe, filha e neta de músicos, era talentosa pianista e cantora lírica. Foi aluna de piano de Wieck, com quem se casou aos dezenove anos. Infeliz com o casamento, pediu o divórcio em 1825 e casou-se com Adolf Bargiel, também aluno de Wieck, perdendo a guarda dos filhos. A pequena Clara, entregue exclusivamente aos cuidados do pai, recebeu dele toda a educação escolar, moral e musical, iniciando os estudos de teoria, canto e piano.

 

Dotada de prodigiosa aptidão musical, Clara fora desde cedo encorajada a compor. Suas primeiras obras foram publicadas quando ela tinha apenas doze anos. Aos treze, já uma pianista internacional, iniciou o Konzertsatz – “movimento de concerto” –, que viria a se tornar o finale de seu Concerto para piano e orquestra. Por dois anos trabalhou na composição de seu Concerto, seguindo à risca os planos do pai. A obra seria um adequado cartão de visitas que garantiria a Clara uma posição entre os virtuosos pianistas-compositores. Em 1834, o Concerto foi orquestrado por Robert Schumann – futuro esposo de Clara e discípulo de Wieck. Em 9 de novembro de 1835 a obra foi estreada com grande sucesso no Gewandhaus de Leipzig, tendo ao piano a jovem compositora, então com dezesseis anos, sob a regência de Felix Mendelssohn. A revisão posterior do trabalho foi seguida pela publicação, em janeiro de 1837, com dedicatória a Louis Spohr.

 

Aos dezoito anos, fim da adolescência, Clara entregou-se ao amor – Robert Schumann – e lhe dedicou toda a existência, contrapondo-se à desaprovação do pai e à sua promissora carreira: “hoje um novo período começa. Uma vida em que se ama acima de tudo e acima de si mesma”. Aos vinte anos, dissera: “uma mulher não deve desejar compor”. Ainda assim, em 1847, aventurou-se a escrever um novo concerto, em fá menor, dedicado a Robert, porém deixou-o inacabado. A glória como pianista ofuscou a carreira de compositora – e o casamento ofuscou ambas. Ter Robert como compositor já lhe bastava. Ademais, além de executar e publicar as obras do marido, ela lhe oferecia inspiração, orientação pianística e estética, com apurado senso musical e literário. A obra de Clara abrange apenas duas décadas dos 76 anos que viveu. Engravidou por dez vezes, perdeu duas gestações e um bebê. Viveu quarenta anos após a morte do marido, depois dos dolorosos anos nos quais ele sucumbira lentamente numa clínica psiquiátrica.

 

Suas composições, dentre canções, peças para piano e um belíssimo Trio, tiveram grande receptividade à época. Franz Liszt vislumbrou nelas “a espontaneidade e a sinceridade de sentimento” da alma feminina. Embora limitadas em número, refletem o cuidado da esmerada formação musical que recebera do pai, elevada técnica e refinado gosto musical.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

 

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