Die Natali, op. 37

Samuel BARBER

(1960)

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.

 

Samuel Osmond Barber II nasceu em West Chester, na Pensilvânia. Sua inclinação musical foi estimulada pela mãe, pianista, e pelos tios, Louise Homer, contralto, e Sidney Homer, compositor. Aos nove anos, ele escreve:

 

“Querida mãe: escrevo para contar um segredo preocupante. Só não chore ao ler porque a culpa não é sua nem minha. Creio ter de dizê-lo francamente agora. Para começar, não nasci para ser atleta. Nasci para ser compositor e estou certo que serei. Vou pedir mais uma coisa. Não me peça que esqueça esse fato desagradável e vá jogar futebol.”

 

Barber entrou para o recém-criado Instituto Curtis, na Filadélfia, aos quatorze anos. Um prodígio em composição, canto e piano, tornou-se o favorito de Mary Louise Curtis Bok, fundadora da instituição. Lá Barber conheceu o compositor ítalo-americano Gian Carlo Menotti, com o qual compartilhou o trabalho e a vida. Ambos ganharam duas vezes o prêmio Pulitzer de música: Menotti em 1950 e 1955; Barber em 1958 e 1963.

 

Em 1942 Barber começou a compor sua grande obra Prayers of Kierkegaard, para coro, grande orquestra e cantores solistas, atendendo à encomenda da Koussevitzky Music Foundation. Várias vezes interrompida a composição, inclusive por circunstâncias da Segunda Guerra Mundial, só foi estreada pela Boston Symphony, sob a direção de Charles Münch, em 1954. Uma segunda encomenda da mesma Fundação foi feita a Barber em 1957: uma obra para celebrar o septuagésimo quinto aniversário da Sinfônica de Boston. Escreveu então Die Natali: prelúdios corais para o Natal. A obra, iniciada em julho de 1960 em Santa Cristina Valgardena, nos Alpes italianos, onde poucos anos depois ele construiria um chalé, foi concluída em novembro do mesmo ano em Capricorn, a residência em Mount Kisko, nos subúrbios de Nova York, que ele e Menotti haviam comprado durante a guerra. Charles Münch estreou-a com a Sinfônica de Boston no Symphony Hallem, em 22 de dezembro.

 

Através do uso de procedimentos como o cânon, o cânon duplo, a aumentação e a diminuição, Barber cria uma trama de variações contrapontísticas harmonicamente coloridas sobre cânticos tradicionais de Natal. Ao saber que Eugene Ormandy tencionava executá-la com a Orquestra da Filadélfia, ele escreve, em 16 de novembro de 1979:

 

“É uma peça que tem partes boas e partes ruins, e estou certo de que você tratará as ruins de modo a me favorecer. […] O começo, por exemplo, simplesmente não funciona. Eu queria harmônicos das cordas a distância, como um eco, mas suspeito que seja uma tonalidade ruim para harmônicos. Talvez se você usar só surdina e esquecer os harmônicos resolva. Ou pode ser que você imagine algo melhor. O resto soa bastante bem, e gosto particularmente das variações sobre Noite feliz.”

 

Die Natali representa um interlúdio entre a ópera Vanessa, opus 32, e o Concerto para piano, opus 38, obras com as quais Barber recebeu dois Prêmios Pulitzer.

 

Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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