Serenata em Mi bemol maior, op. 7

Richard STRAUSS

(1881)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas.

 

Poucos compositores têm seus nomes tão intimamente ligados ao universo sinfônico como Richard Strauss. Desde Beethoven, que se tornou, para o século XIX (e mesmo depois), o grande modelo – e, com isso, a grande meta a ser considerada, explorada, expandida e transcendida –, a música sinfônica assume a importância de um grande feito entre os músicos criadores. Não obstante isso, ela continua dividindo seu lugar, nos processos criativos, com a música de câmara, com as obras para piano, com as canções e com outros gêneros de menor envergadura. Assim, há alguns compositores cuja obra sinfônica, posto que importante, ocupa um lugar relativamente secundário se colocada ao lado de outros gêneros a que esses compositores também se dedicaram: é o caso, por exemplo, de Schubert, para não citar o caso extremo de Chopin. Outros compositores têm, no universo sinfônico, apenas um grande instrumental para a ópera. Seus trechos instrumentais, ainda que por vezes possam ser relativamente autônomos, sempre estão ligados a contextos maiores: é o caso de Verdi, por exemplo, e de Wagner.

 

Caso inverso é o de Richard Strauss. Embora tenha se dedicado à música vocal, a obras para piano e à música de câmara, é no universo orquestral – música sinfônica e óperas – que Strauss encontra seu meio mais eficaz de criação e expressão. Dessa forma, mesmo algumas obras que têm claramente certa concepção camerística, ainda assim sabem à sonoridade sinfônica. Veja-se, por exemplo, a Serenata em mi bemol para treze instrumentos de sopro. Composta quando Strauss contava com somente dezessete anos, essa obra prenuncia, por um lado, o grande melodista que mais tarde se revelaria em O cavaleiro da rosa. Por outro lado, mostra um trabalho de releitura de obras similares, já ensaiadas antes por Mozart, Beethoven e mesmo Brahms, agora extraídas de seu ambiente camerístico e realocadas em um novo contexto, bem mais próximo do modelo sinfônico.

 

É bem provável que a escolha da formação instrumental dessa obra (duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, contrafagote e quatro trompas) tenha tido certa influência do pai de Richard Strauss, que era primeiro trompista da Orquestra da Corte de Munique. Também é provável que seus modelos formais revelem certa ascendência do pai sobre o jovem compositor. Mas o resultado que ela mostra já é o de uma personalidade criadora original e autêntica que mais tarde se revelaria em toda plenitude com seus poemas sinfônicos. A Serenata em mi bemol foi estreada em 1882, sob a direção de Franz Wüllner, regente responsável por nada menos do que as estreias em Munique de O ouro do Reno e A valquíria, de Richard Wagner.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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