Sinfonia nº 2 em Ré maior, op. 73

Johannes Brahms

(1877)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

“Em Wagner a harmonia possui um significado muito abrangente, mas, no que se refere às relações harmônicas, Brahms é mais rico”. Essa afirmação do compositor austríaco Anton Webern, uma das figuras emblemáticas da vanguarda do século XX, se choca com a visão do século XIX sobre o compositor. Ao contrário de Wagner, considerado revolucionário, Brahms era visto como conservador. Sua revalorização no início do século XX, notadamente por Schoenberg, que aponta sua liberdade rítmica e ousadia harmônica, representou significativa mudança na apreciação de sua obra. Um olhar atual nos mostra que as diferenças entre Wagner e Brahms são, antes, complementares. O primeiro compõe essencialmente ópera; Brahms dedicou-se a todos os gêneros, exceto balé e ópera.

 

Jovem, Brahms estuda com profundidade os mestres antigos Bach, Lassus e Palestrina, ampliando o colorido harmônico e a presença do contraponto em sua obra. A imagem de Brahms como criador voltado para o passado deriva desse seu apreço pela polifonia e procedimentos harmônicos praticados por aqueles mestres. O notável é que exatamente essa influência é que vai enriquecer sua música, como apontou Webern. A mistura entre aspectos formais herdados da tradição clássica, particularmente Beethoven, a canção popular alemã e a polifonia dos antigos mestres apresenta-se em sua música com cores e nuances originais.

 

A Segunda Sinfonia, escrita no verão de 1877, talvez seja a mais lírica e luminosa das quatro escritas pelo compositor. Seu tom primaveril contrasta com o caráter sombrio da Primeira. Na Segunda, a harmonia é cheia de matizes e reflete a mistura de luz e sombra resultante de um cromatismo sutil mesclado com elementos diatônicos.

 

O Allegro non troppo, em Ré maior, escrito em compasso ternário como uma espécie de valsa sinfônica, é uma forma sonata típica, com um primeiro tema apresentado como diálogo entre cordas graves e trompas e madeiras, culminando em extrovertida melodia nos violinos, repetida nas flautas. O segundo tema, em Fá sustenido menor, surge nas violas e violoncelos quase como uma canção de ninar. O desenvolvimento é amplo e agitado, com os motivos iniciais trabalhados em polifonia densa e complexa. Finalmente, a reexposição do tema, transformada, retoma a atmosfera serena do início.

 

No Adagio non troppo, em Si maior, de caráter melancólico, Brahms utiliza uma harmonia mais tensa e explora o expressivo cantabile das cordas. A melodia inicial, nos violoncelos, é repetida com variações ao longo do movimento, possibilitando um colorido orquestral cheio de sutilezas harmônicas e contrapontísticas.

 

O Allegretto grazioso (quasi andantino), em Sol maior, é o movimento mais curto e jovial. Em forma de rondó, suas mudanças de caráter e tempo sugerem danças com diferentes características rítmicas e métricas, como numa suíte barroca.

 

No Allegro con spirito, último movimento, brilhante e rápido, Brahms utiliza a forma sonata ampliada, com tratamento temático complexo. A ampla utilização da orquestra e o material temático, submetido a transformações e deslocamentos rítmicos, acentuam o brilho e o vigor desse movimento, conduzindo a uma conclusão grandiosa da obra.

 

Rubner de Abreu
Músico, professor e coordenador pedagógico da Fundação de Educação Artística, fundador e diretor do grupo Oficina Música Viva.

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