Carl Maria von Weber
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
A expressão operística permeia parte substancial da música de Carl Maria von Weber. Além das óperas per si, aspectos cênicos e melódicos do teatro-lírico forneceram ambiência à obra orquestral e instrumental de Weber, dada a força expressiva de seus temas e o gestual dramático dos contrastes de intensidade e de caráter. A familiaridade de Weber com o teatro é associada à vivência na trupe mambembe do pai, com a qual viajou durante toda a infância. Suas óperas O Franco-atirador, Euryanthe e Oberon reveleram-no como precursor da ópera romântica alemã. Por meio dessas obras, Weber fortaleceu a estética germânica no intento de sobrepujar a influência italiana, que há séculos dominava o gênero operístico.
Do ponto de vista musical, Weber não foi propriamente um inovador. Fez uso de escalas, terças e arpejos como um mero construtor, sem interesse em engendrar novas fórmulas. Porém, dispôs em cada trecho de sua música uma profusão de detalhes que somente grandes artistas podem salientar. São as inúmeras possibilidades dinâmicas e expressivas que proporcionam o requinte que tanto agrada a seus intérpretes e ouvintes.
Em Euryanthe, encomendada para ser apresentada em Viena, Weber faz uso pioneiro do leitmotiv – ou motivo condutor, técnica composicional que consiste em associar um motivo melódico a cada personagem. Classificada como grande ópera romântico-heroica, Euryanthe baseia-se em uma história medieval francesa na qual a dupla malévola Lysiart e Eglantine trama contra o amor e a fidelidade do casal Adolar e Euryanthe. Tal enredo, que remonta ao século XIII, já fora utilizado por Boccaccio e por Shakespeare. Porém, a malsucedida adaptação literária de Helmina von Chézy foi responsável pelo fracasso da ópera Euryanthe – assim como, aliás, o fiasco de Rosamunde, de Franz Schubert, da qual ela foi libretista.
Na seção central da vigorosa abertura da ópera Euryanthe está o calmo e fúnebre Largo – composto para o fantasma da irmã de Adolar, Emma –, cujas harmonias inspiraram Richard Wagner a escrever a Trauermusik para acompanhar o traslado das cinzas de Weber da estação ferroviária de Dresden até o cemitério local: Weber havia morrido dezoito anos antes na Inglaterra, durante a turnê da ópera Oberon, e enfim repousaria em solo alemão. Wagner, aos nove anos, se impressionou ao assistir a uma récita de O Franco-atirador. Desde então, tornou-se um inspirado seguidor de Weber. Trauermusik de Wagner, que tem como subtítulo “Música fúnebre sobre temas de Carl Maria von Weber” é, na verdade, uma coletânea de temas da ópera Euryanthe arranjadas para banda de sopros.
O enredo cavalheiresco de Euryanthe lhe confere certa magia, a ponto de Victor Hugo evocar, em Les Misérables, as belezas dessa ópera como a predileta da personagem Cosette. A triunfante abertura de Euryanthe apresenta o tema de Adolar (Allegro marcato) precedido de uma sucessão de arpejos. Esse tema reaparecerá contrapontisticamente após a seção central (Largo) e conduzirá a abertura a um majestoso final.
Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.