Leonard Bernstein, judeu norte-americano nascido no estado de Massachusetts, mas nova-iorquino de coração, dotado de fina instrução musical e humanista, estudante na Universidade de Harvard, aluno de Fritz Reiner e, mais tarde, assistente de Serge Koussevitsky, pianista excelente, aclamado unanimemente por todo o mundo como regente, fez de sua arte e de sua vida uma atitude política: a de assumir e de abraçar sem reservas a liberdade, como homem, como cidadão, como musicista e como compositor. Sua obra reafirma artisticamente tal propósito de liberdade, sintetizando caminhos possíveis que as tendências musicais do século XX ajudaram a desbravar.
Podemos notar duas grandes trilhas percorridas na obra original de Bernstein. De um lado, o trânsito fácil entre os meios de comunicação de massa, o teatro, o cinema e a música popular, sobretudo o jazz, numa linha semelhante àquela inaugurada por George Gershwin. De outro lado, a experimentação, muitas vezes focada não exatamente na proposição de novos modelos, mas na releitura daqueles já estabelecidos.
Pertence à primeira grande tendência o musical West Side Story. A composição foi estreada em 1957 e até hoje muitas de suas canções são de franco conhecimento do público em geral. De fato, a obra como um todo representa um marco no teatro musical americano, não só pela associação aberta do jazz ao modelo de espetáculos da Broadway, mas pela adoção de artifícios musicais que são dignos da mais autêntica tradição operística, como o uso intrincado de conjuntos vocais, o artifício wagneriano dos leitmotives, dentre outros recursos.
Em West Side Story, a música de dança, mesmo em seu contexto de palco, tem caráter sinfônico. Por isso mesmo, essas danças também ganharam relativa autonomia, constituindo um todo orgânico, contido em si mesmo, ainda que desvinculadas de seu contexto original da ação de palco.
[Texto adaptado de nota de programa de Moacyr Laterza Filho. Leia mais aqui.]