Guerra do Vietnã, 1969. Quando o esquadrão de helicópteros do Tenente-Coronel Bill Kilgore sobrevoa o rio Nùng e ataca a vila de Vin Drin Dop, um posto importante para os vietcongues, é A cavalgada das Valquírias que escutamos. Apocalypse Now, o clássico de 1979 de Francis Ford Coppola, tem nessa obra de Wagner o que o editor Walter Murch chamou de “o coração musical” do filme. É de fato impossível pensar a sequência sem a força implacável e intensidade da música. A cavalgada das Valquírias talvez seja o trecho instrumental das óperas de Wagner mais explorado pela cultura pop em tempos recentes. Essa peça abre o terceiro ato de A Valquíria, segunda ópera da tetralogia O Anel do Nibelungo, constituída ainda por: O Ouro do Reno, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. Composto entre 1848 e 1874, a saga épica d’O Anel é um marco na linguagem wagneriana e, consequentemente, toda a História da Música. Aí Wagner abraça definitivamente as propostas do que chama de “trabalho artístico do futuro”, no qual música, poesia e artes visuais deveriam se fundir numa única manifestação. Assim, Wagner toma por base para o enredo da história elementos da mitologia nórdica e germânica, cujo centro narrativo trata da luta pela posse de um anel mágico, forjado pelo anão Alberich, feito de ouro do Rio Reno. Em A Valquíria o drama gira em torno do desentendimento da valquíria Brünhilde com o pai Wotan, chefe dos deuses, quando ela hesita em obedecer a uma ordem do pai. Na mitologia wagneriana, as valquírias eram encarregadas de levar, em seus cavalos alados, as almas dos guerreiros mortos para o Walhalla.