A obra Lume, do compositor mineiro Leonardo Silva, foi escrita em 2022 e teve sua estreia no ano seguinte, na ocasião do 4º Concurso de Composição da Basileia, Suíça. A estreia nacional, realizada com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais em 2024, tem um significado especial: em 21 de fevereiro de 2008, aos 18 anos e pronto para iniciar o curso de Engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais, Leonardo Silva escutava música de concerto ao vivo pela primeira vez, justamente na apresentação de estreia da nossa orquestra, que, dezesseis anos mais tarde, viria a estrear no Brasil uma obra sua. Um concerto que mudou não só a vida de Leonardo, mas também sua carreira. Assim, a ideia de transformação perpassa o caminho de Lume e de seu compositor. Assim como um prisma revela todas as cores a partir de um feixe de luz branco, o solitário mi bemol que abre a peça, na percussão, se expande pouco a pouco para os outros instrumentos e revela todas as suas cores. Passados pouco mais de quinze minutos, o que resta nos últimos compassos da obra é novamente o mi bemol, desta vez nas cordas. É a mesma nota. É a mesma nota? A pergunta permanece como um convite à escuta: um caminho, e não o seu destino, assim como o brevíssimo poema de Giuseppe Ungaretti que inspirou a criação de Lume (e dispensa tradução): “M'illumino/ d'immenso” ("Mattina", 1917).