Em 1909, Sergei Diaghilev encomendou a Ravel um balé sobre a história de Daphnis e Chloé. Instigado pela proposta, o francês começou a trabalhar na obra imediatamente, participando da elaboração do argumento juntamente com Michel Fokine, coreógrafo dos Ballets Russes. A partitura para piano ficou pronta em maio de 1910, mas a orquestração só seria finalizada no dia 5 de abril de 1912, dois meses antes da estreia.
Escrito por volta do século II e de autoria atribuída a Longo (ou Longus), de quem pouco se sabe a respeito, Daphnis e Chloé narra o amor e as aventuras de dois jovens que, ainda muito pequenos, foram abandonados pelos respectivos pais em uma vila de pastores na ilha de Lesbos. À medida que cresciam, apaixonavam-se um pelo outro, sem compreenderem o significado do amor que sentiam. Em um dia de festa, Chloé é sequestrada por piratas, e Daphnis reza em prantos para que ela retorne com vida. O deus Pan o ajuda e resgata Chloé. Todos comemoram seu regresso em uma grande festa, e os dois podem finalmente se casar.
Dividido em três partes, o balé Daphnis e Chloé emprega a maior orquestra já utilizada por Ravel. Seu papel é imprescindível, não apenas interpretando as cenas como dando suporte à dança: é ela a responsável por garantir a clareza das passagens, em um balé cuja ação é extremamente complexa. As cordas sustentam o edifício musical, tocando constantemente em divisi, permitindo uma maior liberdade às madeiras para interpretar as sutilezas dos personagens.
A primeira apresentação, no dia 8 de junho de 1912, no Théâtre du Châtelet, em Paris, foi um sucesso e ajudou a estabelecer a reputação de Ravel como um dos principais compositores franceses da época. Em 1911, antes de terminar a orquestração do balé, Ravel extraiu uma primeira suíte de concerto da música que havia composto até aquele momento. Após a estreia do balé integral, Ravel trabalhou na Suíte nº 2, que só seria estreada em 1913.
Texto adaptado de nota de programa de Guilherme Nascimento.
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