Ferruccio Busoni
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.
Ferruccio Busoni foi menino prodígio. Estudou piano e composição com alguns dos melhores mestres de sua época e foi considerado, após a morte de Liszt, como o maior pianista do mundo. Nas palavras de Stefan Zweig:
“Desde a juventude eu o amara mais do que a qualquer outro virtuoso. Quando dava concertos ao piano, seus olhos assumiam um maravilhoso brilho de sonho. Suas mãos ao piano criavam incansavelmente música perfeita, mas, no alto, a bela cabeça de intelectual, um pouco inclinada para trás, escutava e assimilava a música que ele criava. Uma espécie de iluminação parecia dominá-lo sempre. Passou a maior parte de sua vida nos países de língua germânica, em busca de aperfeiçoamento técnico e reconhecimento artístico, uma vez que a cena musical italiana do final do século XIX era dominada pela ópera. Escreveu: – Onde é o meu lugar? Quando sonho à noite e desperto, sei que no sonho falei italiano. E, quando escrevo, penso em alemão.”
Aos nove anos de idade, Busoni foi levado a Viena pelo pai, para fazer-se conhecido. Além de ter sido a cidade de Mozart, Beethoven e Schubert, Viena era a capital da música na época. Naquele final de ano, quando o jovem garoto da Toscana entrava na cidade, Wagner regia seu Lohengrin na Hofoper e Bruckner lecionava na Universidade. Johann Strauss filho, o Rei da Valsa, lotava os salões de baile com suas duas orquestras. Liszt dava recitais na cidade e Brahms morava em Viena desde 1863.
Nos anos seguintes Busoni viveu entre Áustria e Itália, estudando piano e composição intensamente. Aos treze anos escreveu: – (…) já me apresentei para grandes personalidades na Corte Austríaca, tais como o Imperador do Brasil, a Rainha de Hanover e a Arquiduquesa Elisabeth (carta para Otto von Kapff de 4 de junho de 1879). Aos dezessete anos novamente estava tentando a sorte em Viena. Depois de se fazer ouvir pelas personalidades mais importantes do meio musical da época, dentre elas Liszt, Brahms, Rubinstein, Hanslick e Richter, teve início sua sólida carreira de concertista e compositor, além de professor, regente e editor. Estabeleceu-se em Berlim em 1894, tornando-se um mestre dos mais respeitados. Deixou uma obra musical importante e alguns textos fundamentais para o estudo da música do início do século XX, dentre os quais ressalta o Ensaio de uma nova estética musical, escrito em 1906.
Busoni não foi um conservador nem um inovador radical. Sua música conserva frescor e originalidade. A Abertura de Comédia – Eine Lustspiel-Ouvertüre – apresenta certo caráter mozartiano e a dramaticidade germânica do final do século XIX, revestidos de melodias tipicamente italianas, à maneira de Rossini. Composta em uma única noite, a obra foi revisada pelo compositor em 1904 e publicada no mesmo ano. O primeiro tema, vivo e trepidante, divide-se entre as cordas e as madeiras. O segundo, dolce espressivo, é apresentado pelo clarinete. Uma breve seção, em que o autor desenvolve as ideias musicais do início, nos conduz à reapresentação dos dois temas. A peça termina com uma coda efusiva.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.