Appalachian Spring: Suíte

Aaron COPLAND

(1943/1944, balé – 1945, suíte)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tímpanos, percussão harpa, piano, cordas.

 

Copland nasceu e viveu no Brooklyn até os vinte e um anos de idade, quando se mudou para Paris. Na capital francesa ele estudou composição com Nadia Boulanger e piano com Ricardo Viñes, e travou contato com alguns dos maiores compositores da época: Ravel, Stravinsky, Poulenc e Milhaud. Em 1924 voltou para Nova York, decidido a ganhar a vida com a música. Se já não era fácil para um jovem artista viver de música em Paris, na Nova York do início do século isso era praticamente impossível. Com o crash da Bolsa, em 1929, a situação ficou ainda mais grave. Mas ele conseguiu sobreviver com algumas apresentações, alguns alunos particulares e a ajuda de amigos. Afinal, se era difícil viver de música, ao menos ele era jovem e solteiro. Tudo o que precisava era de uma cama, um piano, uma escrivaninha e uma estante para os livros e discos. Nos anos 1930, o sucesso de sua peça orquestral El Salón México (1936), do balé Billy the Kid (1939) e das trilhas sonoras para os filmes de Hollywood Carícia Fatal (Of mice and men, 1939) e Nossa Cidade (Our town, 1940) ajudaram a estabelecer sua reputação de “o mais americano dos compositores”. Na década seguinte, Copland alcançaria o reconhecimento internacional com seus balés Rodeo (1942) e Appalachian Spring (1944).

 

Composto entre 1943 e 1944, o balé Appalachian Spring foi encomendado pela Fundação Coolidge e estreado no Coolidge Auditorium, da Biblioteca do Congresso, em Washington, no dia 30 de outubro de 1944. Como a concepção do balé partiu de Martha Graham, que coreografou e dançou a estreia, Copland compôs a música de acordo com suas ideias: “algo que tivesse a ver com o espírito pioneiro americano, com juventude e primavera, com otimismo e esperança”. Sem um título, Copland passou a chamá-lo, simplesmente, de “Balé para Martha”. Quando faltavam apenas alguns dias para a estreia, Martha Graham sugeriu o título Appalachian Spring, a partir do poema The dance, de Hart Crane. A palavra spring, no poema, tem o sentido de nascente, fonte de água, manancial, e não primavera, como muito se pensou. O título da obra, em português, seria, aproximadamente, Manancial dos Apalaches.

 

Como o Coolidge Auditorium é uma pequena sala de concertos planejada para música de câmara, o balé foi escrito para treze instrumentos. A estreia teve grande sucesso e, no ano seguinte, Copland fez alguns cortes na música, criando a suíte orquestral, dividida em oito seções, executadas sem intervalos. A primeira apresentação se deu no dia 04 de outubro de 1945 pela Orquestra Filarmônica de Nova York, sob a regência de Artur Rodzinski. A suíte rendeu ao compositor o Prêmio Pulitzer no mesmo ano.

 

Appalachian Spring foi considerada, da noite para o dia, o retrato musical mais fiel dos Estados Unidos. Exceto por uma citação da canção tradicional Simple gifts, de Joseph Brackett, o restante da música é original, embora inspirada no folclore norte-americano. Nas palavras do próprio compositor, ele apenas utilizou “ritmos e melodias que sugeriam certa ambiência americana”.

 

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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