Marcelo Dino
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, harpa, cordas.
Mestre em Música pela Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Dino graduou-se em Regência pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Compositor e produtor musical, Dino é ainda professor do curso de pós-graduação em trilha sonora da Universidade Anhembi Morumbi e arranjador da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo. Começou a atuar como compositor de trilha sonora para televisão em 1996. Em 2004, a premiação do primeiro movimento de sua Sinfonia nº 1 no II Concurso Gilberto Mendes de Composição instigaria o produtivo compositor de trilhas sonoras a explorar também a composição de obras sinfônicas e, posteriormente, de peças para piano e música de câmara. Embora entenda tanto a trilha sonora quanto a música sinfônica como ramificações de um mesmo universo musical, Dino percebe uma certa oposição entre esses gêneros: enquanto a trilha sonora é concisa, imediata e serve a uma cena ou imagem, a música orquestral convida ao “desenvolvimento extremo de material musical” e exige “amplo domínio da forma musical”.
Seu estilo musical é diverso, embora faça eco às linguagens conciliatórias de modernistas nacionalistas, como o tcheco Leos Janácek ou o inglês William Walton. Compositores ingleses, como Gerald Finzi, Leighton Lucas, Michael Tippett, Peter Fricker e Humphrey Searle, e norte-americanos, como Roy Harris, Aaron Copland e Peter Mennin, figuram como os seus prediletos, sendo aqueles que oferecem o alicerce técnico e lírico a partir do qual Dino constrói sua própria identidade musical. Também os estudos na Unesp com Edmundo Villani-Côrtes, voltados para uma linguagem musical mais tradicional e elementos mais populares, e com Edson Zampronha, compositor engajado nas correntes de vanguarda dos séculos XX e XXI, contribuíram para a consolidação de sua linguagem musical multifacetada.
A obra Aurora Borealis foi encomendada a Marcelo Dino pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais em razão do primeiro prêmio, pela obra Menniniana, no Festival Tinta Fresca de 2017. Fascinado por fenômenos naturais de grandes dimensões, Dino decidiu criar uma obra inspirada no fenômeno óptico observado nas regiões polares. A decisão resultou ainda do fato surpreendente de que apenas em 2011 cientistas conseguiram registrar o som da aurora boreal, “um som bastante ruidoso que nos faz lembrar a música eletroacústica”. A partir do nome dado ao fenômeno por Galileu Galilei, em 1619, que combina duas figuras mitológicas gregas – Aurora, a deusa grega do amanhecer, e Boreas, o deus do vento norte conhecido por suas asas púrpuras –, a obra estrutura-se em quatro seções. A Introdução explora técnicas mais contemporâneas de escrita a fim de produzir uma sonoridade mais ruidosa, evocativa dos sons da aurora boreal. Boreas (O Deus dos Ventos do Norte) apresenta uma sonoridade menos melódica e mais rítmica, obstinada e dramática, com harmonias sombrias e misteriosas. Estas contrastam com o caráter mais melodioso e sinuoso, embora ainda misterioso, da seção Aurora (A Deusa do Amanhecer). Como síntese, o Finale retoma e recombina elementos das duas seções que o precedem, dando origem, assim, a um fenômeno de grandes dimensões sinfônicas.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Literatura pelo King’s College London.