Concerto para harmônica

Heitor VILLA-LOBOS

(1955/1956)

Instrumentação: Flauta, oboé, clarinete, fagote, 2 trompas, trombone, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.

 

A história da harmônica como instrumento de concerto deve-se, principalmente, a três harmonicistas: Larry Adler (1914-2001), John Sebastian (1914-1980) e Tommy Reilly (1919-2000). Virtuosos e versáteis, eles não apenas introduziram a harmônica nas salas de concerto, mas também foram os principais responsáveis pela consolidação de seu repertório, contribuindo com transcrições, composições e encomendando obras a consagrados compositores. Dentre os três, John Sebastian destaca-se como o primeiro harmonicista a adotar um repertório inteiramente dedicado à música de concerto, e é para ele que Villa-Lobos compõe seu Concerto para harmônica.

 

Villa-Lobos já desfrutava de grande reconhecimento e sucesso internacionais quando Sebastian lhe encomendou, em 1954, um concerto para harmônica e orquestra. A ascensão internacional do compositor brasileiro deveu-se principalmente à sua projeção no cenário musical norte-americano, que tem início quando de sua apresentação à frente da Janssen Symphony Orchestra, em Los Angeles, em 26 de novembro de 1944. À estreia, seguiu-se uma série de concertos em Boston, Chicago e Nova York, quando Villa-Lobos se apresentou como regente e compositor. Concomitantemente, o importante crítico musical do The New York Times Olin Downes publicou uma entrevista com Villa-Lobos que, com os concertos, o colocaria sob os holofotes do mundo musical internacional. O sucesso alcançado nos Estados Unidos consolidou uma carreira recheada de vinte prestigiosas encomendas que lhe ocuparam seus últimos quinze anos de trabalho.

 

Entre 1954 e 1955, Villa trabalhou no Concerto para harmônica, estreado em 27 de outubro de 1959, em Jerusalém, por John Sebastian à frente da Kol Israel Orchestra, regida por George Singer. Em crítica publicada no Jerusalem Post de 1 de novembro do mesmo ano, lê-se: “Villa-Lobos parece ter escrito esse concerto não apenas para Sebastian, mas, de fato, com ele: (…) as possibilidades da harmônica foram exploradas em sua máxima extensão, permitindo a Sebastian demonstrar sua doce cantilena bem como suas acrobacias de tirar o fôlego (especialmente na cadência do terceiro movimento)”. Villa-Lobos realmente contou com a colaboração de Sebastian na preparação da obra: o harmonicista não apenas revisou, corrigiu e editou a cadência do terceiro movimento, como também preparou para o compositor uma série de desenhos demonstrando o funcionamento e o potencial de seu instrumento, a fim de ressaltar principalmente sua surpreendentemente ampla tessitura e suas ricas combinações sonoras.

 

O Concerto para harmônica, de caráter mais neoclássico e menos nacionalista, conta com três movimentos: um Allegro moderato de caráter modal e dividido em três seções; um Andante melancólico e tranquilo em forma ternária; e um Allegro final mais rítmico e marcado pela cadência escrita por Villa-Lobos e John Sebastian (e recomposta por Tommy Reilly). A primeira apresentação deste Concerto na América do Sul aconteceu em Belo Horizonte, no Auditório do Instituto de Educação, no dia 13 de dezembro de 1964, por ocasião do Festival Villa-Lobos, apresentado pela Orquestra Mineira de Concertos Sinfônicos, tendo como solista Aluisio Rocha e regente Sebastião Viana.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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