Concerto para piano nº 19 em Fá maior, K. 459

Wolfgang Amadeus MOZART

(1784)

Instrumentação: flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 

Aos vinte e cinco anos, em plena maturidade artística, Wolfgang Amadeus Mozart deixou o serviço de Konzertmeister do Arcebispado de Salzburg, sua cidade natal, e mudou-se para Viena. Lá, tornou-se seu próprio empresário, realizando concertos por assinatura, dando aulas e compondo sob encomenda: “não tenho mais a infelicidade de estar a serviço de Salzburg. Hoje é um dia feliz para mim!”, escrevera ao pai em 1781. O período vienense foi para Mozart o mais alegre, prestigioso e profícuo. Surgiram inúmeras obras de vários gêneros, entre elas quinze grandes concertos para piano e orquestra. Desde a infância, Mozart convivera intimamente com o piano, instrumento que dominava com exímia destreza. Ao longo de sua vida, compôs especificamente para determinados solistas, adaptando-se às habilidades características de cada um, fossem eles cantores ou instrumentistas. Assim, o Concerto para piano nº 17 – como também o de nº 14 – foi escrito para o virtuosismo da pianista Bárbara Ployer, conhecida como Babette, uma excepcional aluna do compositor. O Concerto nº 18 destinou-se à talentosa pianista vienense, cega de nascença, Maria Theresia von Paradies. Já a obra conseguinte, o Concerto nº 19, mais varonil e militaresco, Mozart compôs para si próprio, na medida de sua execução refinada e proficiente. O gênero, além de divulgar o ofício de Mozart como compositor, pianista e professor de piano, converteu-se em sua principal fonte de renda.

 

1784, conhecido como o “ano do piano”, assinala o auge da reputação de Mozart enquanto pianista. O ano marca a composição de seis concertos para piano, dos quais o último é o Concerto para piano nº 19 em Fá maior, K. 459. A obra, provavelmente, foi estreada em 1785 durante uma série de concertos por assinatura que Mozart realizou no Mehlgrube, um luxuoso cassino em Viena. No entanto, não subsistem registros desse fato. Oficialmente, o Concerto para piano nº 19 foi executado em 1790, em Frankfurt, durante as comemorações da coroação de Leopoldo II como Imperador da Áustria. Leopoldo, filho de Maria Theresa, assumiu a coroa devido à morte do irmão, José II, que reinou durante a vida de Mozart. Sabe-se que, para as festividades imperiais, o compositor preparou dois concertos: o Concerto para piano nº 26, intitulado por seus biógrafos o “Concerto da Coroação”, e o Concerto para piano nº 19, por vezes denominado “Segundo Concerto da Coroação”. Curiosamente, ambos foram concebidos e estreados em ocasiões anteriores distintas.

 

O Concerto para piano nº 19 distancia-se, por ser incomparavelmente mais importante, dos outros dois concertos em Fá maior, e é o último escrito nessa tonalidade. Dos vinte e sete concertos para piano de Mozart, é o único que não possui andamento lento – adagio, andante ou larghetto – em seu movimento central. Essa característica corrobora o caráter militar do primeiro movimento e transmite garbosidade e jovialidade a toda a obra. Se há contrastes, estes se encontram no terceiro movimento, no qual Mozart quebra o discurso homofônico e desenvolve seus dotes contrapontísticos, elaborando um agitado fugato à maneira dos antigos mestres J. S. Bach e G. F. Haendel.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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