Concerto para piano nº 3 em Dó maior, op. 26

Sergei PROKOFIEV

(1921)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, cordas.

Após um aprendizado rigoroso no Conservatório de São Petersburgo, em 1918 Sergei Prokofiev deixou a Rússia revolucionária para realizar uma extensa turnê pela América do Norte. O Concerto em Dó maior é a principal obra sinfônica dos quatro anos em que ele viveu como um compositor “bolchevique” nos Estados Unidos. As primeiras ideias datam de 1911. O segundo movimento baseia-se num tema e variações projetados em 1913 e integrados ao esboço geral no decorrer de férias na Bretanha, em 1916. São desse período partes do primeiro movimento. E muito do allegro scherzando final provém de um quarteto de cordas abandonado em 1921, quando, de novo na França, esses elementos se agregaram num conjunto.

Ao estrear em Chicago em 16 de dezembro de 1921, com o compositor ao piano e a Chicago Symphony sob a regência de Frederick Stock, o opus 26 foi saudado como “o mais belo concerto moderno para piano”. Um mês depois, o autor executou-o com o amigo Albert Coates e a New York Symphony em Manhattan. Recebido com frieza na ilha, preso a empresários, Prokofiev via-se forçado a circular como intérprete de Schumann, Chopin e Rachmaninov, inserindo uma ou outra de suas composições como encore ao final dos concertos. Ele conta em suas memórias:

“Quando vagava nos parques enormes do centro de Nova York a olhar os arranha-céus que os dominam, pensava com raiva fria nas maravilhosas orquestras americanas que não se ocupavam de minha música, nos críticos que repetiam mil vezes o que já fora dito – “Beethoven é um compositor genial” – e rejeitavam violentamente as novidades, nos empresários que organizavam longas turnês para artistas que interpretavam cinquenta vezes o mesmo programa de obras universalmente conhecidas. Eu havia chegado muito cedo […]”.

No segundo pós-guerra, a primeira geração norte-americana de pianistas modernos – alunos de avós russos, de professores como Josef e Rosina Lhévinne, ou de uma pianista texana com um Samaroff de fantasia no nome – legou-nos um conjunto assombroso de interpretações desse Concerto: William Kapell com Leopold Stokowski e a Philharmonic-Symphony (RCA, 1949, no Carnegie Hall, ao vivo); Van Cliburn com Walter Hendl e a Chicago Symphony (RCA, 1960); Byron Janis com Kirill Kondrashin e a Filarmônica de Moscou (Mercury, 1962, Conservatório de Moscou); e Julius Katchen, com István Kertész e a London Symphony (Decca, 1968).

Prokofiev esteve onde estiveram as grandes reviravoltas da primeira metade do século XX. A possibilidade de compor e ser executado determinou suas escolhas. O quanto sua arte ganhou ou perdeu com elas é assunto para debate. O custo subjetivo do retorno à pátria emergiu em toda a sua crueza este ano (2013), com a publicação da tragédia de Lina Prokofiev, esposa do compositor, no livro Lina e Serguei: o amor e as guerras de Lina Prokofiev, de Simon Morrison (professor de história da música na Universidade de Princeton).

Carlos Palombini
Professor de Musicologia da Universidade Federal de Minas Gerais

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