Concerto para violino nº 2 em sol menor, op. 63

Sergei PROKOFIEV

(1935)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, percussão, cordas.

 

Prokofiev, que vivia fora da Rússia desde 1918, desejava ardentemente rever seu país natal. Nos Estados Unidos, onde tentou ser bem-sucedido, sua música fora mal acolhida. Seu estilo composicional era excessivamente duro para as plateias americanas, e os críticos consideravam-no um pianista “de aço”. Os americanos preferiam Rachmaninov. Na Europa ocidental, para onde se mudara em busca de sucesso, sua obra era pouco executada, e os trabalhos que lhe ofereciam como pianista eram escassos. Quando o assunto era música russa, os europeus eram fiéis ao estilo de Stravinsky. Sem muitas opções de trabalho e com saudades de casa, Prokofiev retornou à Rússia em 1936, no momento em que a música de Shostakovich caía em desgraça. Em sua pátria, por doze anos ele foi celebrado e recebeu inúmeras honrarias, até o momento em que o Politburo aumentou a patrulha ideológica e o atacou como “formalista”. A partir daí sua música nunca mais seria a mesma.

 

Pouco antes de seu regresso definitivo à Rússia, em 1935, na mesma época em que trabalhava no balé Romeu e Julieta, Prokofiev compõe o Concerto para violino nº 2. Trata-se de sua última obra composta no Ocidente. Foi criado por encomenda do violinista francês Robert Soëtens, que deteve os direitos exclusivos de sua execução por um ano. A estreia se deu em Madrid, em dezembro de 1935, com Soëtens ao violino e regência de Enrique Fernández Arbós.

 

O Concerto inicia-se com o violino executando o primeiro tema, prontamente retomado pela orquestra (Allegro moderato). Um intermezzo agitado nos leva ao segundo tema (Meno mosso), uma doce melodia apresentada pelo solista e ecoada em toda a orquestra. A frequente alternância de momentos rápidos e lentos, ao longo de todo o movimento, nos conduz à reapresentação dos temas principais, executados ao mesmo tempo pelo solista e orquestra. O movimento termina com uma atmosfera inesperadamente misteriosa.

 

O segundo movimento (Andante assai) inicia-se com uma breve introdução da orquestra, seguida pelo solista, o qual executa um dos mais belos e apaixonados temas de Prokofiev. Um segundo tema, de caráter mais imponente, faz um leve contraste com o primeiro. O movimento termina com a mesma tranquilidade do início.

 

O terceiro movimento (Allegro, ben marcato) é uma dança moderada, que cativa o ouvinte desde os primeiros acordes. A percussão torna-se mais presente nesse movimento, especialmente no brilho penetrante das castanholas. Embora mais brilhante que os movimentos anteriores, o terceiro guarda um quê de intimista – já presente nos demais movimentos –, principalmente no trato da orquestra, como se Prokofiev hesitasse entre a música de concerto e a música de câmara. Diz-se que sua intenção primeira era compor uma sonata para violino e piano. Ao que parece, ao transformá-la em um concerto, Prokofiev decidiu preservar muito das atmosferas originais.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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