Dama Kobold, op. 154: Abertura

Joachim RAFF

(1869)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Entre os anos de 1840 e 1844, Raff optou, finalmente, pela carreira musical. À época, ensinava numa escola primária na Suíça – havia cursado filologia no Ginásio Jesuíta. Embora quando criança tivesse aprendido violino, órgão e canto com seu pai, sua estreia como compositor dá-se apenas na década de 1840. Em 1843 consulta a opinião de Mendelssohn que, muito elogioso em relação ao seu trabalho, o indica para a editora Breitkopf & Härtel, que lançaria suas primeiras obras para piano. Em Zurique, Raff se estabelece como professor de piano, copista e intérprete. No verão de 1845 é apresentado a Franz Liszt, que o toma logo como protegido e sugere sua mudança para a Alemanha. Mais que um aluno, torna-se verdadeiro discípulo do compositor húngaro. Fixa-se em Weimar, em 1850, como assistente de mestre de capela. Alinha-se ativamente ao movimento de vanguarda encabeçado por Liszt e Wagner, envolvendo-se em polêmicas em defesa de ambos. Apesar do apoio de Liszt, que não apenas promove suas obras orquestrais como também lhe oferece algum aporte financeiro, Raff decide deixar Weimar por considerar ínfimas, nesta cidade, suas possibilidades profissionais como compositor. Em 1865 troca o círculo de Weimar pela produção independente em Wiesbaden e, pelos 21 anos seguintes, lecionará harmonia, piano e canto. Ali Raff compôs suas principais obras – suas primeiras sinfonias e a ópera cômica Dama Kobold – tornando-se, nos anos de 1870, um dos mais executados compositores da Alemanha.

 

Em 1851, ainda sob supervisão de Liszt, Raff havia composto sua primeira ópera, König Alfred. A despeito do apoio de Liszt, a obra provara um traumático fracasso. No entanto, o desapontamento com essa ópera que, por anos, assombrara o compositor, tornou-se a justificativa para a retomada do gênero em 1865. Creditando o fracasso de sua ópera inicial à temática exacerbadamente séria, Raff opta por estilo mais leve e cômico, alinhando-se à música de Rossini. À época, Ludwig Schnoor von Carolsfeld – o conhecido intérprete do Tristão de Wagner – sugere a Raff que adapte a peça do poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca, La Dama Duende. Escrita em 1629, trata-se da narrativa fantástica de um homem seduzido por uma mulher invisível, ora escondida, ora coberta por um véu, ora imersa na mais profunda escuridão. Raff, porém, prefere trabalhar na ópera Die Parole, que não chega a ser encenada. Em 1869, finalmente, Raff acata a sugestão de Carolsfeld e compõe Dama Kobold: ópera cômica em três atos. Diferentemente das anteriores, para as quais ele mesmo escrevera os libretos, Raff pede a Paul Reber que faça a adaptação de acordo com o público e o humor alemães. A obra é estreada no Teatro da Corte de Weimar em 9 de abril de 1870 e alcança um enorme sucesso, garantindo-lhe certa visibilidade como operista. Liszt, porém, criticaria a “miscelânea de estilos” que caracteriza a obra. Apesar do sucesso inicial, a ópera não se fixa no repertório, e apenas sua abertura, publicada em 1870, virá posteriormente a receber atenção.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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