Evocações sagradas – Sobre temas de Manoel Dias de Oliveira

Jônatas Reis

(2016)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 3 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cravo, piano, cordas.

 

Na última década, o belo-horizontino Jônatas Reis tem se destacado especialmente como compositor de música sinfônica. Em 2004, compôs sua primeira obra para essa formação, Meditação Sinfônica: Onipresença, vencedora da primeira edição do Prêmio BDMG/Fundação Clóvis Salgado de Composição Sinfônica. Logo se seguiram outras premiações. Em 2010, a obra Louvor Sinfônico nº 1: Adoração ao Criador da Terra recebeu o segundo lugar no Festival Tinta Fresca e menção honrosa por sua orquestração. No ano seguinte, seu arranjo sinfônico para a canção de Silvestre Kuhlmann, Nem Só de Pão, foi premiado no 1º Concurso de Composição e Arranjo da Orquestra de Sopros da Fundação de Educação Artística. Em 2014, Messiânicas Brasileiras nº 2: Sonho de uma Noite no Sertão conquistou o terceiro lugar no Concurso Nacional de Composição Sinfônica Guerra Peixe: 100 Anos; no Festival Tinta Fresca de 2015, Reis conquistou o primeiro prêmio com a obra Messiânicas Brasileiras nº 3: Grande Sertão Exótico. No mesmo ano sua obra Sambaião Exótico foi finalista do Prêmio Bienal de Composição da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo.

 

Mesmo diversificada, a produção musical de Jônatas Reis orienta-se de acordo com um certo número de interesses que atestam sua identidade artística e coesão estilística. Neste sentido, ele explora principalmente a combinação entre a música de concerto, o jazz e as músicas popular e folclórica brasileiras, além de ocupar-se com a composição de música cristã e obras de caráter sacro. É, talvez, através da linguagem sacra que o compositor se insira mais profundamente numa tradição musical que antecede o Barroco, renova-se com Bach e encontra no francês Olivier Messiaen um ícone capaz de fundir de modo singular religiosidade e inovação da linguagem musical. A essa mesma tradição filia-se também Manoel Dias de Oliveira (1734/35-1813), compositor brasileiro do período colonial, que se acredita ter nascido na Vila de São José, atual Tiradentes, e sabe-se ali ter atuado. Dias de Oliveira tornou-se o principal músico da Capitania de Minas Gerais e seu estilo versátil reúne atributos que vão da música renascentista ao Barroco tardio. São de Manoel Dias de Oliveira os seis temas que inspiraram a obra Evocações Sagradas, de Jônatas Reis.

 

Embora motivada pela música do compositor colonial mineiro, Evocações Sagradas reúne variadas influências, de Hindemith e Britten a Stravinsky e Shostakovich, passando por Villa-Lobos e Guerra-Peixe, e divide-se em cinco movimentos. O primeiro movimento, A Ti, ó Deus louvamos; a Ti, Senhor, confessamos, reúne variações sobre o tema Te Dominum confitemur do Te Deum de Dias de Oliveira; o segundo movimento, Vinde, adoremos, mantém quase intacta a melodia do Venite Adoremus, enquanto variações harmônicas, métricas e rítmicas são exploradas; o terceiro movimento, O anjo do Senhor – A fuga do Egito, é uma fuga em crescente densidade a partir do tema do Angelus Domini de Dias de Oliveira; o quarto movimento, Ai! Meu Senhor morreu, sobrepõe dois temas sucessivos da Procissão de Enterro nº 2: o motivo coral Heus e o solo Canto da Verônica, que é delegado ao violoncelo; finalmente, o último movimento, O Senhor ressuscitou verdadeiramente!, traz uma série de variações inspiradas no Surrexit Domini Vere.

 

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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