Fantasia Brasileira nº 4

Francisco MIGNONE

(1936)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Francisco Mignone, paulistano, formou-se em composição, piano e flauta pelo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, em 1917. Até aquele ano, antes de lançar-se de fato como músico de tradição clássica, Mignone tinha atuado sob o pseudônimo de Chico Bororó, compondo valsas, maxixes e tango de inspiração popular, enquanto participava ativamente das rodas de choro no Brás, Bexiga e Barra Funda, em São Paulo. No Conservatório, Mignone aproxima-se da tradição musical italiana por influência de seus professores Sílvio Motto, Savino de Benedictis, Luigi Chiaffarelli e, principalmente, Agostino Cantù. Em 1920, muda-se para a Itália para estudar com Vincenzo Ferroni no Conservatório de Milão. Ali escreve sua primeira ópera, O contratador de diamantes, em 1921. A esta ópera segue-se outra, poucos anos mais tarde, L’innocente (1927). O sucesso desta última obra faz com que Mignone seja convidado para lecionar harmonia no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, retornando então ao Brasil em 1929.

 

A volta para o país, o contato com Mário de Andrade e suas ideias sobre música nacional, combinados a sua ampla experiência como músico popular, desencadeiam em Mignone novos interesses estéticos. Gradualmente, harmonias e estruturas de tradição romântica e operística, características de suas composições do período italiano, cedem espaço às fórmulas e referências folclóricas e populares. Esse momento nacionalista de sua produção – considerado sua segunda fase – prolonga-se até 1959/1960. Mignone consolida então uma linguagem nacional acessível e clara, na qual figuram estereotípicos ritmos afro-brasileiros, assim como estruturas e melodias derivadas da música popular urbana. Entre as inúmeras produções dessa época, destacam-se os balés característicos Maracatu de Chico Rei (1933) e Leilão (1941) e as peças sinfônicas Batucajé (1936) e Babaloxá (1936). No entanto, são talvez as quatro Fantasias Brasileiras para piano e orquestra o mais eloquente exemplo do nacionalismo do compositor.

 

Compostas entre 1929 e 1936, essas Fantasias Brasileiras foram consideradas por Mário de Andrade como a definitiva aceitação, por parte de Francisco Mignone, de uma linguagem nacional, como seu ponto de ruptura com o universalismo e a música italiana, e, finalmente, como um dos melhores exemplos do sinfonismo e da orquestração do compositor. No fim do ano de 1933, Mignone transferira-se definitivamente para o Rio de Janeiro, onde se realizou a primeira audição do Maracatu do Chico Rei, em 1934. Nesse ano, o compositor sucedeu Walter Burle Marx na cadeira de regência do Instituto Nacional de Música.

 

A Quarta Fantasia Brasileira é como uma rapsódia, na qual o piano solista realiza ora recitativos e cadências virtuosísticas, de caráter espontâneo e improvisativo – inspiradas em Ernesto Nazareth –, ora passagens rítmicas e dançantes, integrando-se perfeitamente aos tutti orquestrais. Sua estreia deu-se em novembro de 1937, pela Orquestra Municipal de São Paulo sob a regência do autor, tendo Souza Lima como solista.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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