Fontes de Roma

Ottorino RESPIGHI

Ottorino Respighi, nascido em uma família de artistas, em Bolonha, estudou no Liceu Musical Rossini de sua cidade. Foi aluno de composição de Giuseppe Martucci, líder de uma corrente de compositores que pugnava pela restauração dos vínculos com a música sinfônica europeia, numa época em que a Itália tinha praticamente abandonado a música instrumental em favor do melodrama romântico. Os modelos seguidos por esse grupo eram Brahms, Wagner e Liszt. Wagneriano fervoroso, Martucci dirigiu a estreia italiana de Tristão e Isolda em Bolonha, em 1888, evento ao qual, bem provavelmente, assistiu o menino Ottorino, aos nove anos.

 

Terminados os estudos no Liceu, Respighi iniciou a vida profissional, como violinista e violista, sempre fazendo também conhecer suas novas composições. Em 1900 partiu para São Petersburgo para atuar como primeiro viola da Ópera dessa cidade. Aproximou-se então de Rimsky-Korsakov, tendo recebido, desse mestre do colorido e da exuberância orquestral, decisiva orientação. Procurou também Max Bruch em Berlim, porém sem que o músico alemão lhe deixasse marca.

 

Após lecionar no Liceu Rossini, Respighi transferiu-se definitivamente para Roma, em 1913, vindo a ser Diretor do Conservatório de Santa Cecília. Viajou aos Estados Unidos como solista e compositor, em 1926, voltando a esse país, dois anos depois, para a estreia no Metropolitan de sua ópera La campana sommersa e, em 1932, para assistir à sua Maria Egiziaca.

 

De outro aspecto da renovação da música italiana participou Respighi, com renomados compositores, uma geração após Martucci, ao resgatar o legado dos séculos XVII e XVIII da própria Itália, também deixado no esquecimento. Ao trazer essa grande música para a atualidade, esses compositores foram também responsáveis pela inclusão da Itália na contemporaneidade musical.

 

Richard Strauss e Claude Debussy, com suas opostas maneiras de valorizar o timbre, foram os dois modelos inspiradores da linguagem sinfônica de Respighi. Quanto aos modelos formais, ele adotou preferencialmente o poema sinfônico, na trilha de Liszt e Strauss, com caráter descritivo. Utilizou também referências da antiga música italiana e do canto gregoriano em diversas obras, como as Antiche arie e danze e o Concerto Gregoriano para violino.

 

O poema sinfônico Fontane di Roma, em forma de suíte em três partes sem interrupção, foi composto em 1916 e estreado em 1917. Arturo Toscanini dirigiu sua segunda execução em Roma, com grande repercussão. A obra se mantém no repertório das orquestras e na discografia atual com grande relevo, graças à extraordinária sabedoria da orquestração, aliada à característica sensualidade e beleza tímbrica.

 

Respighi compôs mais dois poemas sinfônicos – Pini di Roma e Feste Romane – sobre impressões da cidade que adotara como sua, sem atingir a mesma força expressiva do primeiro. O compositor esteve ao menos duas vezes no Brasil e escreveu uma suíte orquestral denominada Impressioni Brasiliane (1927).

 

Respighi registrou, numa introdução à partitura de Fontes de Roma, comentários sobre “como concebeu a obra, de forma a expressar sentimentos e visões que lhe sugeriam quatro das fontes de Roma, contempladas nos momentos em que parecem estar mais em harmonia com a paisagem”. 1. A fonte de Valle Giulia ao alvorecer: a música pinta uma “cena pastoril, rebanhos que passam e desaparecem em meio aos frescos vapores da madrugada romana”. 2. A fonte do Tritão durante a manhã: uma explosão de trompas “invocando náiades e tritões que se perseguem em frenética dança entre jatos d’água”. 3. A fonte de Trevi ao meio-dia: um tema solene de trompetes introduz a cena em que “sobre a superfície da água passa o carro de Netuno seguido por sereias e tritões”. 4. A fonte de Villa Médici ao cair da tarde: “um triste tema se eleva sobre prolongado trinado. É noite e tudo desaparece gradualmente no silêncio”.

 

Berenice Menegale
Pianista, Diretora da Fundação de Educação Artística.

anterior próximo