Cláudio de Freitas
Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, oboé d’amore, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, cordas.
O processo composicional de Cláudio de Freitas combina extensa prática como intérprete e profundo conhecimento de harmonia e contraponto, de modo a privilegiar elementos musicais tradicionais, como a melodia, o acompanhamento e, principalmente, a forma. Como ele mesmo declara, concebe inicialmente a forma da obra para então traçar as linhas melódicas que são combinadas segundo um contraponto rico, embora plástico. Trabalha a harmonia, seja ela triádica, hexacordial ou de blocos sonoros, dentro de grandes estruturas, o que lhe garante um sinfonismo encorpado e favorece o colorido orquestral. Além da primazia formal, sua orquestração revela intimidade com a orquestra, fruto de sua vasta experiência como fagotista. Sua atuação como contrafagotista na Filarmônica de Minas Gerais e, principalmente, os doze anos em que esteve na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, onde participou de cerca de cem apresentações por ano, permitiram ao compositor explorar o repertório de concerto em toda sua diversidade. Como instrumentista, Freitas vivenciou os mais emblemáticos estilos e linguagens musicais, consolidando assim o conhecimento da teoria musical trazido do Harid Conservatory, em Boca Raton, Flórida. Ali, estudou com o aclamado Arthur Weisberg, responsável por sua formação como instrumentista e sua introdução no mundo da composição musical.
De volta ao Brasil, além do trabalho como músico de orquestra, defendeu mestrado em musicologia na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Como musicólogo, revisou e editou a Sinfonia nº 3, “A Guerra”, de Heitor Villa-Lobos, para a editora Criadores do Brasil. Sua edição foi gravada pelo selo Naxos em fevereiro de 2012. A riqueza de seu trabalho como compositor reflete não apenas sua formação musical plural, mas também sua paixão pela história e literatura brasileiras. Predominantemente, suas obras têm caráter programático, destacando-se os poemas sinfônicos Gonzaga ou a Revolução de Minas, op. 4, e A Confederação dos Tamoios, op. 7, além dos Três Quadros de Victor Meirelles, op. 14, e Homenagem a Rubem Braga: Quatro Crônicas Escolhidas, op. 10.
Em temporadas anteriores, a Filarmônica de Minas Gerais interpretou Gonzaga ou a Revolução de Minas e Homenagem a Rubem Braga, sendo esta última em estreia mundial.
Obra completamente abstrata, sem nenhuma referência programática, o Grande Trio Concertante materializa um eloquente trabalho técnico e orquestral. Concebida como um concerto para orquestra em três movimentos ininterruptos, a peça explora virtuosisticamente a coexistência de três famílias de instrumentos: as cordas, as madeiras e os metais. Cada um dos grupos instrumentais é apresentado isoladamente, de modo que se revelem suas personalidades sonoras distintas. Segue-se então um diálogo entre as famílias de instrumentos, no qual o tema das cordas ecoa nas madeiras e nos metais, que o modificam. Tal diálogo expande-se e as diversas vozes instrumentais intensificam-se conduzindo ao clímax orquestral, ou seja, ao momento do grande trio concertante.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.