Camargo GUARNIERI
O Concerto nº 2 é a terceira obra composta por Guarnieri para violino e orquestra. O Concerto nº 1 obteve ampla repercussão, tendo sido premiado em 1940, em um concurso internacional patrocinado pela Fleischer Music Collection da Philadelphia. A segunda, composta em 1951, não foi intitulada Concerto como as demais, e sim Choro. O compositor paulista optou por substituir a designação de Concerto por Choro, com o intuito de ressaltar a referência aos elementos nacionais defendidos na Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil por ele escrita em 1950. Após a criação do Choro, Camargo Guarnieri compôs o Concerto nº 2 para violino e orquestra, no qual é retomado o título Concerto com o objetivo de participar do Concurso Internacional La Musica nel XX Secolo.
Nessa obra, ao mesmo tempo em que adota a designação tradicional de uma obra para instrumento solista e orquestra e mantém sua estrutura em três movimentos contrastantes, como é recorrente nos concertos clássicos, Guarnieri, logo no início do primeiro movimento, surpreende o ouvinte com uma cadência ad libitum, em posição nada frequente. Essa cadência situada na abertura do Concerto sugere a possibilidade de o solista apresentar, previamente, os elementos temáticos desenvolvidos no decorrer da obra. Nota-se que a antecipação dos temas, executados pelo solista na cadência, viabiliza a escuta mais fluente de suas posteriores aparições em formato mais complexo e denso. O Allegro energico inicia sua exposição logo após o final da cadência, apresentando um tema vigoroso em notas repetidas, inicialmente executado pelo violino e, posteriormente, repetido pelo conjunto orquestral, procedimento recorrente em toda a obra. O segundo movimento desenvolve-se em ambiente de nostalgia e melancolia, aspectos inclusive indicados, na partitura, pelo caráter que lhe foi conferido: Triste. Já o terceiro movimento, Allegro giocoso, contrastante em relação ao movimento anterior, apresenta temas vibrantes, expandindo-se com grande vitalidade rítmica. Dentre os diversos elementos temáticos desenvolvidos no decorrer da obra, destacam-se os baseados nas escalas modais recorrentes na música popular e folclórica de diversas regiões brasileiras, sobretudo da região Nordeste.
Um dos pilares da concepção de nacionalismo musical adotada por Camargo Guarnieri situa-se na inclusão, em suas composições, de elementos associados ao “popular” – entendido principalmente como “folclórico” – sem o emprego direto de temas folclóricos, como é frequente na obra de Villa Lobos e de outros compositores brasileiros do século XX. Dessa maneira, no Concerto nº 2 para violino, Camargo Guarnieri desenvolve, através de elementos temáticos associados ao folclore brasileiro, um cunho multifacetado, mantendo com maestria traços “eruditos” e “modernos”.
O Concerto nº 2 foi dedicado ao violinista polonês, naturalizado mexicano, Henryk Szeryng (1918 – 1988) e, mesmo tendo sido composto em 1953, teve sua estreia somente no ano de 1956, no Theatro Municipal de São Paulo, executado pelo violinista Anselmo Zlatopolsky sob a regência do próprio Camargo Guarnieri.
Cesar Buscacio
Pianista, Mestre em Música e Educação pela UniRIO, Doutor em História Social pela UFRJ, professor na Ufop.