Maurice RAVEL
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, harpa, cordas.
Foi sempre um caminho para Ravel o flerte com realidades musicais relativamente distantes daquelas em que ele próprio se inseria. Nesses flertes, Ravel vislumbra possibilidades de escapar a um Romantismo crepuscular e decadente, a um sistema tonal já insuficiente para as novas demandas expressivas e às correntes demasiado acadêmicas de criação musical. Assim é que Ravel se volta, por vezes, às suas origens hispânicas, como no Bolero e na Alborada del Gracioso, ao jazz, como na Sonata para violino e no Concerto em sol para piano, e ao seu próprio passado musical, recuperando e reelaborando formas e gêneros antigos. Assim é que são geradas, por exemplo, obras como a Pavane pour une Infante Défunte, o Tombeau de Couperin e o Menuet Antique.
Não se trata, porém, de um resgate… Trata-se de uma apropriação! Ravel ressuscita esses gêneros, oriundos de um passado musical relativamente distante, para poder tornar-se moderno. Nesse passado ele vê possibilidades expressivas ainda não engessadas por um Romantismo já posto em cheque e uma distância temporal que se presta à releitura e à reelaboração.
O Minueto Antigo foi composto, como várias obras de Ravel, originalmente para piano: sua versão original data de 1895, e estreou-se três anos depois por Ricardo Viñes, pianista amigo do compositor, a quem a obra fora dedicada.
A versão orquestral, do próprio Ravel, data de 1929, trinta e quatro anos depois da versão original. É difícil saber, nesta obra, a que tipo de minueto Ravel faz referência: se à dança barroca, ou se à mesma dança, incorporada pelo Classicismo à sonata e à sinfonia, e mais tarde transformada por Beethoven em Scherzo. Na verdade, esse não é o caminho mais genuíno para se abordar a obra. Nesse sentido, ela é um pretexto: um caminho que Ravel encontra para legitimar, em termos formais, sua própria necessidade criativa.
O Menuet Antique, em sua versão orquestral, foi estreado em janeiro de 1930 pela orquestra Lamoureux, de Paris, sob a batuta do próprio Ravel.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.