O Escravo: Alvorada

Antônio Carlos Gomes

(1889)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Antônio Carlos Gomes, nascido em Campinas e considerado o maior autor de óperas das Américas, foi um fervoroso admirador de Verdi. Há quem diga que, aos dezoito anos, compôs uma marcha sobre motivos de Il Trovatore. Apoiado por D. Pedro II, Carlos Gomes recebeu bolsa de estudos para se aperfeiçoar na Europa. O Imperador teria preferido que Carlos Gomes fosse para a Alemanha, onde pontificava o grande Richard Wagner, mas a Imperatriz, Dona Teresa Cristina, napolitana, sugeriu-lhe a Itália. André Rebouças, amigo de Carlos Gomes, escreveu que o compositor certa vez revelara: “se me dessem agora a escolher entre ir para o céu e ir para a Itália, eu preferiria ir para a Itália”, corroborando a vontade da Imperatriz o seu desejo. Rebouças também conta sobre as impressões de Carlos Gomes das matas brasileiras: “apreciava principalmente o amanhecer na floresta; o coro irreproduzível de um milhar de pássaros tinha para ele o maior encanto”. Nessas palavras, Rebouças antevê a composição do interlúdio orquestral da ópera O Escravo, intitulado Alvorada.

 

Lo Schiavo foi escrito na mesma época em que Verdi estava completando a composição de Otello. Verdi, geralmente tão comedido em julgar seus contemporâneos, havia profetizado, após ouvir Il Guarany: “este jovem começa de onde eu termino!”. Verdi encontrou muito de si naquela obra, e Gomes reconheceu o peso daquela imensurável expressão de simpatia: “veja”, confessou a um amigo, “me dói é trair a palavra de Verdi, visto que não poderia ser seu sucessor. Ó gênio o de Verdi! Depois de Otello não posso ombreá-lo… Estou amedrontado!”. De fato, o sucesso obtido em Il Guarany nunca mais se repetiria, embora tenha escrito obras de qualidade superior, como Lo Schiavo, que fizera de Carlos Gomes representante musical do fim da era escravocrata no Brasil. A “Ópera da Abolição”, como ficou conhecida na época da estreia carioca, em 1889, foi dedicada à Princesa Isabel, “a Redentora”, que trocou o trono pela libertação de um povo.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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