Richard WAGNER
Como a maioria dos compositores, Wagner necessitava de muita paz e silêncio para compor. Mas estes eram artigos de luxo para um homem frequentemente atormentado por dívidas e casos amorosos. Assim, embora não conseguisse compor por longos períodos diários, Wagner se esforçava para escrever ao menos algumas notas todos os dias. Nos últimos anos de vida, famoso internacionalmente, as inúmeras negociações com teatros e o excesso de correspondência diminuíram consideravelmente sua produção musical. Não apenas as incessantes solicitações roubavam seu precioso tempo, como o compositor, agora idoso, necessitava de muito mais esforço para realizar o que antes fazia com grande facilidade. O último Wagner era um homem por demais cansado.
Os mestres cantores de Nuremberg é uma de suas últimas óperas e a única ópera cômica que Wagner compôs. Os Mestres Cantores constituíam associações de poetas e músicos amadores que floresceram nas cidades alemãs nos séculos XIV a XVI. Provenientes da classe média, os Mestres Cantores promoviam festivais de canções e transmitiam seu conhecimento de geração a geração. O poeta-sapateiro Hans Sachs, um dos personagens principais da ópera, é um Mestre Cantor que realmente existiu no século XVI e uma das figuras mais amadas da literatura alemã. A ação da ópera se passa no século XVI. Eva, filha do rico Veit Pogner, é prometida em casamento ao vencedor do concurso de canções. Eva e Walther von Stolzing estão apaixonados, mas ele ignora a arte dos Mestres Cantores. O frio e calculista Beckmesser, que também deseja casar-se com Eva, não mede esforços para destruir seu rival. Hans Sachs surge para ajudar Walther que, no final, vence o concurso e conquista a mão de sua amada.
Embora os primeiros esboços da ópera sejam de 1845, Wagner só iniciou a confecção do libreto em 1861. No ano seguinte deu início à composição da música, que só seria finalizada em 1867, quando o compositor contava 54 anos de idade. A primeira apresentação da ópera completa deu-se no Teatro Nacional de Munique, em 1868, sob a regência de Hans von Bülow.
No século XIX, a abertura de uma ópera era, geralmente, a última parte a ser composta. Isso se dava, principalmente, porque as aberturas eram constituídas de uma coletânea dos temas principais; o compositor precisava ter a obra pronta para escolher os trechos que utilizaria na abertura. Obviamente, a prioridade era dada aos temas que representassem momentos importantes da trama. Mas, no caso de Os mestres cantores de Nuremberg, o Prelúdio foi a primeira parte a ser escrita por Wagner, já no início de 1862, tão logo terminou o libreto. Embora a música ainda não estivesse composta, ele já tinha ao menos vários esboços. O que o autor não previu, no entanto, foi que os tempos seguintes seriam alguns dos mais tumultuados de sua vida, o que retardaria a finalização da ópera em muitos anos. Em 1867, ao terminar finalmente a composição, Wagner havia acrescentado novos temas que, embora importantíssimos para a trama, não foram incluídos no Prelúdio. O Prelúdio já havia sido estreado em Leipzig, no dia 31 de outubro de 1862, sob a direção do compositor.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.