Partita para Orquestra

Goffredo Petrassi

Goffredo Petrassi faz parte, com Luigi Dallapiccola, Luigi Cortese, Giorgio Ghedini e Giacinto Scelsi, da geração de compositores italianos nascidos no início do século XX que se firmaram no cenário musical logo após a Segunda Guerra Mundial (Scelsi é geralmente incluído nessa geração por ter nascido na mesma época, mas seu reconhecimento se deu apenas postumamente). Esses compositores situam-se entre a generazione dell’ottanta (Casella, Respighi, Alfano, Malipiero e Pizzetti) e a geração dos compositores vanguardistas da segunda metade do século: Bruno Maderna, Luigi Nono e Luciano Berio.

 

Goffredo Petrassi nasceu em uma família humilde em Zagarolo, pequena cidade próxima a Roma. Aos quinze anos, para ajudar a família, conseguiu emprego em uma loja de instrumentos musicais. Começava, nesse momento, sua paixão pela música. Ingressou no Conservatório de Santa Cecília, em Roma, aos vinte e quatro anos, onde estudou órgão com Fernando Germani e composição com Alessandro Bustini. Quatro anos mais tarde conhecia Alfredo Casella, que o incentivou a tentar a carreira de compositor e o introduziu no meio musical romano. Em 1932 o sindicato dos músicos promoveu um concurso de composição em que só poderiam concorrer partitas e sinfonias. Ottorino Respighi e Alfredo Casella estavam entre os jurados. Petrassi recebeu o 1º prêmio concorrendo com a sua recém-composta Partita per orchestra. Foi estreada em 1º de abril de 1933, no Teatro Augusteo, em Roma, pela Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia, sob a direção de Bernardino Molinari. Nesse mesmo ano a Partita venceu um concurso internacional em Paris e foi regida por Alfredo Casella em concertos em Amsterdam e Leningrado. A Partita per orchestra projetou o nome do compositor fora das fronteiras italianas. Iniciava-se, para o jovem Petrassi de apenas 29 anos, uma carreira ao mesmo tempo nacional e internacional, antes do término de seus estudos no Conservatório.

 

Embora nos séculos XVI e XVII o termo partita se relacionasse a uma peça instrumental única ou a um conjunto de variações, passou a referir-se, a partir do início do século XVIII, a um conjunto de danças, à moda da suite. A Partita per orchestra, de Petrassi, possui três movimentos/danças: Gagliarda, Ciaccona e Giga. A Gagliarda foi uma dança de corte do século XVI e início do XVII, rápida e em métrica ternária. A Ciaccona, provavelmente originária da América espanhola, tornou-se muito popular na Itália do século XVII. Muitas vezes associada à Passacaglia, a Ciaccona é geralmente concebida como um conjunto de variações sobre tema apresentado nos baixos. A Giga, dança popular rápida de origem inglesa, do século XV, espalhou-se pela Europa, tornando-se muito conhecida na França e Itália no século XVII. Na Partita per orchestra podemos perceber o estilo composicional de Petrassi dos anos 1930, o qual se caracteriza pelo neoclassicismo da corrente de Casella com preocupação formal rigorosa e escolha de temáticas do século XVIII. São perceptíveis também a força rítmica de Paul Hindemith, com seus gestos rápidos e imprevisíveis, e a modernidade vibrante de Stravinsky, com a inserção de acentos assimétricos e o uso essencialmente rítmico e percussivo da orquestra.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.

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