Rondó em Dó maior, K. 373

Wolfgang Amadeus MOZART

(1781)

Instrumentação: 2 oboés, 2 trompas, cordas.

 

A motivação de Mozart ao escrever música concertante para violino deve-se, em parte, a seu cargo na corte de Salzburgo, cidade onde a preferência pública pelo instrumento era notória. E, certamente, também pelo estímulo paterno – no ano do nascimento do compositor, seu pai Leopold publicara um célebre tratado sobre o ensino do violino.

 

Para o instrumento, Mozart compôs cinco concertos completos. O primeiro, K. 207, escrito em 1773, ano de sua terceira estada na Itália, demonstra o quanto da grande tradição violinística desse país o jovem músico assimilara. Os outros concertos são todos de 1775. O segundo, K. 211, terminado em junho, revela certa influência francesa, sobretudo pelo característico ritmo pontuado, marcial, no principal tema do primeiro movimento. Os três concertos seguintes, K. 216, K. 218 e K. 219, foram compostos em apenas quatro meses, sob a demanda do autoritário arcebispo Colloredo, em cuja corte o compositor acumulava a dupla função de violinista e regente. Mozart detestava essa última tarefa (pois gostava de reger ao piano); e escreveu os três concertos para outro violinista de Salzburgo, seu amigo Antonio Brunetti. Nessas obras, a maturidade precoce do compositor de dezenove anos ultrapassa as modestas ambições do tradicional modelo de concerto doméstico da época. Mozart transcende o caráter galante e rococó, evitando o formalismo maneirista e a ausência de tensão. Cultiva extrema liberdade no tratamento dos elementos temáticos e propõe novos problemas formais, para os quais encontra inesperadas soluções. Cada concerto apresenta estrutura particular, visando um objetivo retórico específico.

 

Em 1776, Mozart escreveu, a pedido de Brunetti, duas importantes peças isoladas para serem usadas como movimentos alternativos em seus concertos: o grande Adagio K. 261 substituiria, eventualmente, o soberbo movimento central do Concerto nº 5; e o Rondó K. 269 constituiria um final mais convencional para o Primeiro Concerto que, inusitadamente, termina com um Presto em forma sonata. O novo final daria ao grupo dos cinco concertos uma estrutura idêntica.

 

O refinado Rondó em Dó maior, K. 373, última obra de Mozart para violino e orquestra, talvez tenha sido composto como final de um concerto inédito cujo planejamento foi interrompido pelo célebre episódio de sua demissão do cargo de Salzburgo, ocorrida em maio de 1781. Um mês antes, no dia 8 de abril, Antonio Brunetti o estreou em Viena, na residência do príncipe Colloredo, pai do arcebispo de Salzburgo.

 

Seis anos separam o Rondó K. 373 dos cinco concertos precedentes; e o papel do solista nele marca uma evolução – antecipando os futuros concertos românticos, mostra-se muito mais independente em relação ao tutti orquestral. O violino inicia a obra apresentando o tema principal e introduz os intermezzi, entre eles uma expressiva melodia em menor, sobre o pizzicato dos violinos e o murmúrio das violas. A cadência e o final, propositadamente despojados, encerram o Rondó com encantadora discrição e simplicidade.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos

Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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