Sinfonia nº 1 em Dó maior, op. 19

Carl Maria von Weber

(1806/1807, revisão 1810)

Instrumentação: Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Costuma-se associar, ao Romantismo musical alemão, a imagem sisuda de um movimento engajado, carregado de sentimentos trágicos, preocupado com a posteridade. Não se pode negar que essas sejam deveras algumas das marcas do Romantismo, alemão ou não. Mas raramente se buscam ou se reconhecem como genuinamente românticas as atmosferas festivas e, de alguma forma, mais leves, evocativas da dança, da vida social ou dos salões elegantes. Quando é inevitável que essas atmosferas sejam reconhecidas, como no caso da música de Schubert, por exemplo (que, a propósito, marque-se bem, era austríaco…), elas são não raro tomadas como fatos de exceção. O Romantismo nasceu sob a sombra poderosa de Beethoven, a qual nunca deixou de atormentar o pobre Brahms, e cresceu sob as bandeiras dos Davidsbündler de Schumann. Assim, não é de se estranhar que frequentemente seja olvidado o autor do Convite à Valsa, Carl Maria von Weber.

 

Como muitos de seus contemporâneos, Weber foi, antes de mais nada, um grande instrumentista, e a sua música o revela. Como pianista, porém, não foi símbolo, como mais tarde foram Chopin e Liszt. Como compositor, tampouco: ele não tem nem a aura de pai eterno, como Beethoven, nem a de militante engajado, como Schumann. A despeito de tudo isso, considerando-se Beethoven (com razão) um caso à parte, pode-se dizer que o Romantismo na Alemanha começa com Weber: Wagner, que proclama o elogio fúnebre em seu enterro, o considerava o mais germânico de todos.

 

A história da música frequentemente maltratou Weber em uma insustentável comparação entre ele e Schubert. Não há que se fazer essa comparação. Há, isso sim, que se notar a inegável habilidade melódica de Weber, sua técnica original e, por vezes, audaciosa de composição e sua inspiração poética finíssima. Basta ouvir Der Freischütz ou Oberon, suas duas principais óperas. Além disso, é um sinfonista brilhante. Em seus concertos e em algumas cenas de suas óperas há uma espécie de sentido de novo colorido orquestral, talvez não tão eloquente como em Beethoven, mas ainda assim surpreendente e cativante.

 

Apesar disso, Weber compôs apenas duas sinfonias, ambas concluídas em 1807 (dois anos depois de Beethoven ter estreado a Heroica) e compostas para a corte do conde von Württenberg, para quem Weber trabalhava desde o ano anterior. Não se sabem ao certo a data e o local de sua estreia, mas presume-se que tenham se dado naquela corte, no ano de sua conclusão. A orquestração da primeira sinfonia reflete os recursos de que Weber dispunha na orquestra do conde. Daí a ausência do clarinete, que era de sua especial predileção e para o qual ele compôs algumas de suas páginas mais significativas.

 

Sucinta em tamanho e forma, a primeira sinfonia de Weber não se delonga em grandes desenvolvimentos temáticos. Em vez disso, a retomada e a justaposição de pequenas ideias musicais revelam um não alinhamento com o modelo beethoveniano que se impôs ao sinfonismo romântico. Entretanto, no Andante, o lirismo dessa grande curva melódica coloca Weber definitivamente no século XIX.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

anterior próximo