Sinfonia nº 1 em fá menor, op. 10

Dmitri SHOSTAKOVICH

(1925)

Instrumentação: 2 piccolos, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, cordas.

 

Na noite de 12 de maio de 1926, após um concerto da Orquestra Filarmônica de Leningrado (no século XX, a cidade de São Petersburgo mudaria de nome para Petrogrado, de 1914 a 1924; e Leningrado, de 1924 a 1991, antes de retornar ao seu nome original), subia ao palco, para receber os cumprimentos da plateia, um jovem e tímido compositor de apenas 19 anos. Seu nome era Dmitri Dmitriyevich Shostakovich e a obra em questão, sua Sinfonia nº 1, escrita como peça de formatura da classe de composição de Maximilian Steinberg (1883-1946). Shostakovich, que começara seus estudos musicais aos oito anos, ingressara no Conservatório de Petrogrado em 1919, com apenas treze anos de idade. Na época, o diretor do Conservatório era o compositor Alexander Glazunov (1865-1936), um ex-menino prodígio que estreara sua primeira sinfonia na mesma sala de concerto, em 1882, com apenas dezesseis anos de idade. Ambos, Glazunov e Steinberg, ex-alunos de Rimsky-Korsakov (1844-1908), acompanhariam de perto os progressos do jovem Shostakovich.

 

Shostakovich se transformaria em um dos três maiores compositores da União Soviética, juntamente com Sergei Prokofiev (1891-1953) e Aram Khatchaturian (1903-1978). Mas a vida sob o regime de Stalin não seria fácil. Em 1936 sua ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk seria condenada, em um artigo anônimo do Jornal do Partido Comunista (Pravda), como formalista, primitiva e vulgar. Em 1948, na campanha de Andrei Zhdanov para restabelecer a pureza ideológica e combater as influências ocidentais na vida social soviética, o Comitê Central do Partido Comunista condenou a obra de vários compositores soviéticos, dentre eles Shostakovich, Prokofiev e Khatchaturian. Shostakovich jamais apoiou o regime soviético. Apenas aqueles que viveram as perseguições e as condições de vida e trabalho sob um regime que tratava a todos sem piedade compreenderiam suas atitudes imediatas de se filiar ao Partido Comunista, de escrever artigos em elogio ao modo de vida soviético e de compor obras em conformidade com as diretrizes do Partido. Shostakovich só começaria a se sentir livre das pressões a partir da 10ª Sinfonia, composta logo após a morte de Stalin.

 

Mas a sua 1ª Sinfonia pertence a uma outra época, antes da fama e das pressões stalinistas. A orquestração leve desta obra seria por muito tempo uma marca registrada de Shostakovich. Porém, uma certa melancolia o acompanharia por toda a vida, já percebida aqui na alternância entre momentos alegres e passagens extremamente trágicas. Ainda hoje considerada uma de suas melhores obras, a Sinfonia nº 1 apresenta as principais influências que Shostakovich tivera nos anos de juventude: a música russa de Stravinsky (1882-1971), Prokofiev e Tchaikovsky (1840-1893), e o colorido da música popular ouvida nas ruas e teatros da época. A estreia causara uma sensação enorme no meio musical de Leningrado. No ano seguinte, com apenas vinte anos de idade, o compositor tinha sua 1ª Sinfonia apresentada em Berlim, sob a batuta de Bruno Walter (1876-1962).

 

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

 

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