Sinfonia nº 5 em Mi bemol maior, op. 82

Jean SIBELIUS

(1915 | Revisada em 1916 e em 1919)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

Durante seus anos de formação musical, Sibelius estudou também Direito. Decidido, porém, a dedicar-se exclusivamente à música, aperfeiçoou-se em Berlim e Viena. De volta à sua terra, foi violinista da primeira orquestra profissional da Finlândia e, em 1896, tornou-se professor de violino e de teoria musical na Universidade de Helsinki.

 

Vivendo o conturbado período histórico marcado pela resistência à ocupação russa e pela independência de 1917, Sibelius rapidamente foi reconhecido como o mais importante e influente músico do nacionalismo finlandês. Sua obra adquiriu o status de símbolo patriótico, e o Estado lhe ofereceu uma pequena pensão vitalícia para que pudesse dedicar mais tempo à composição. Curiosamente, Sibelius vinha de um ambiente familiar marcado pela cultura sueca e, embora fosse apaixonado pelas tradições literárias e pelos costumes finlandeses, nunca se considerou um estudioso do folclore. Sua música é fruto, sobretudo, de uma necessidade muito pessoal, íntima, de busca de crescimento espiritual. Tendo expressado espontaneamente, entretanto, a linguagem de sua terra, recebeu o reconhecimento internacional de sua obra, e, principalmente nos países anglo-saxônicos, tornou-se motivo de orgulho para os finlandeses. A vasta produção de Sibelius inclui vários poemas sinfônicos, numerosas peças de música para cena, o Concerto para violino e orquestra, música coral e peças menores para instrumentos solistas, além das sete sinfonias.

 

Seus poemas sinfônicos, de caráter rapsódico, evocam antigas sagas e contemplam romanticamente a sombria paisagem finlandesa, tornando-se logo muito populares. As sete sinfonias são verdadeiros afrescos musicais de natureza épica. Oferecem particular interesse aos analistas, pois se afastam das formas preestabelecidas. A sólida estruturação dessas obras modifica a forma sonata clássica pela utilização de um princípio de crescimento temático que confere a cada sinfonia uma organização própria e diferenciada.

 

Famoso, Sibelius realizou turnês regulares para fora de seu país e, em 1914, lecionou no Conservatório de Boston, Estados Unidos. Mas manteve-se um artista solitário. Músico de rigorosa formação acadêmica e de expressão anacronicamente romântica, manifestou intransigente severidade para com os artistas de seu tempo, apesar de admirar Debussy e Bartók. Ele próprio avaliou seu descompasso com as preocupações musicais contemporâneas – em 1929, sentindo que nada de novo tinha a dizer, Sibelius retirou-se para sua residência em Järvenpää, permanecendo obstinadamente silencioso durante seus últimos vinte e sete anos.

 

Antes da versão definitiva, a Sinfonia nº 5 passou por duas grandes modificações. A original (que tinha quatro movimentos) foi estreada em Helsinque em 8 de dezembro de 1915 – dia do 50º aniversário do músico. Mas a partitura que prevaleceu como definitiva foi a da terceira revisão, publicada em 1919, com apenas três movimentos. Tornou-se uma das mais apreciadas obras de Sibelius.

 

O primeiro movimento (Molto moderato), em Mi bemol maior, talvez seja o mais original de toda a produção sinfônica do autor, por sua forma muito livre, com uma dupla exposição de quatro elementos temáticos e inusitada associação a um scherzo. A exposição apresenta amplo tema de abertura, entregue às trompas. Um segundo motivo, no mesmo andamento moderado, surge nas madeiras. Uma passagem ascendente sobre os trêmulos das cordas conduz à nova tonalidade de Sol maior. O segundo grupo temático inicia-se com um tema largo e sincopado, nas cordas e madeiras. As notas das trompas iniciais reaparecem no trompete e na flauta, completando a seção de exposição. Antes do desenvolvimento propriamente dito há uma repetição bastante livre dos elementos já apresentados, com todos os temas na tonalidade original de Mi bemol. O desenvolvimento inclui mudanças frequentes de andamentos, contrastes dinâmicos e rítmicos. Um scherzo – cujo tema aparece com sua indicação de compasso ternário habitual – integra-se sutilmente aos elementos da forma sonata. A reexposição traz um acentuado dramatismo e culmina com o segundo tema apresentado por toda a orquestra. Uma curta coda destaca os metais, sobretudo os trompetes, em uma verdadeira fanfarra.

 

No Andante mosso, quasi allegretto, domina a simplicidade. O andamento constrói-se inteiramente sobre a repetição de pequena frase rítmica apresentada, primeiro, pelas cordas em pizzicato; depois, mais melódica, nas flautas. Como único contraste à permanente tranquilidade dessas variações, surge um curto episódio sombrio (sobre sons ligados nos metais, como sinos). A coda é dominada pelo fluente solo do oboé, sobre o trêmulo das cordas.

 

O Allegro molto final tem forma sonata. Os segundos violinos estabelecem um acompanhamento para as violas que logo apresentam um tema com característica de moto perpetuo. O segundo motivo será introduzido pelas trompas – sobre o solene tema dos sinos, madeiras e violoncelos cantam uma bela melodia. A sinfonia termina com seis acordes martelados, muito separados entre si, breves e poderosos.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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