Suíte Grand Canyon

Ferde Grofé

(1931)

Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, celesta, cordas.

 

Assim como vários compositores norte-americanos da época, tais como Aaron Copland, George Antheil e Henry Cowell, Ferde Grofé foi arrebatado pela onda patriótica que varreu os Estados Unidos nos anos 1930 e 1940. As preocupações sociais e o temor de que os princípios democráticos estivessem em risco fizeram dos anos da Depressão e do período da Segunda Guerra Mundial o momento em que o americanismo musical conheceu o seu apogeu. De repente, um novo mercado se abria para aqueles compositores que, até então, haviam sido negligenciados: orquestras, regentes, companhias de filmes, balés, estações de rádio e grandes patrocinadores – todos estavam em busca de uma música que evocasse a paisagem dos Estados Unidos e travasse uma comunicação direta com as massas. Nesse ambiente de entusiasmo nacional, as obras compostas em caráter folclórico evocavam, sempre, algum tema da história ou da paisagem norte-americana. O oeste era o preferido da população, e os estilos musicais costumavam oscilar entre o erudito e o popular, naquilo que genericamente acabava recebendo a denominação de jazz.

 

Foi nessa época que Grofé compôs sua mais famosa obra, a Suíte Grand Canyon, entre os anos de 1929 e 1931. Grofé era um excelente compositor e exímio orquestrador. Soube, como ninguém, dar substância e cores novas às canções folclóricas dos Estados Unidos e edificá-las em uma linguagem musical que o povo norte-americano compreendia instantaneamente.

 

A Suíte foi estreada por Paul Whiteman e sua Orquestra no Studebaker Theater, em Chicago, em novembro de 1931. Seus cinco movimentos, com títulos sugestivos, buscam retratar um dia no Grand Canyon. O primeiro movimento, misterioso, intitula-se Alvorada (Sunrise) e é em andamento moderado. Um rulo nos tímpanos, um acorde agudo nas cordas e uma escala ascendente nos clarinetes abrem lugar para o canto dos pássaros, no flautim. Aos poucos toda a orquestra aparece executando o tema principal, como num espetáculo de luz ao nascer do dia, em uma paisagem assombrosa. O segundo movimento, Deserto pintado (Painted desert), é o movimento lento. Com seu caráter hipnótico, é de uma orquestração refinadíssima. O famoso terceiro movimento, intitulado Na trilha (On the trail), inicia-se com uma curta introdução da orquestra, seguida de uma bela cadência do violino. Logo após temos, no oboé, o tema do cowboy descendo a ladeira em seu burrinho; seu caráter alegre e saltitante faz este movimento funcionar como o Scherzo da Suíte. As trompas preparam o início do quarto movimento, Crepúsculo (Sunset). Quase sempre com fragmentos temáticos em linhas descendentes, a orquestra estabelece o clima de uma noite tranquila que se descortina. O último movimento, Tempestade (Cloudburst), inicia-se calmo, como se estivéssemos em um sonho. Aos poucos ressurge o tema do primeiro movimento, respondido por um novo tema, nas cordas. Aos poucos, num colorido instrumental espetacular, uma incrível tempestade se forma em toda a orquestra. A obra termina com um final grandioso.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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