Franz Ticheli
Na rua Bourbon do bairro francês de New Orleans, aos nove anos, Frank Ticheli escolhia entre um trompete e um clarinete. Acabou ficando com o trompete, que era mais barato. Sua afinidade com os instrumentos de sopro revelou-se logo e sua carreira tomou o rumo da banda sinfônica. Atualmente, Ticheli é um dos mais apresentados e reconhecidos compositores para essa formação. Tornou-se o compositor vivo mais executado por bandas universitárias entre 1998 e 2003. Contudo, seu repertório abrange obras para coro, conjuntos de câmara e orquestra. A diversidade de seus trabalhos revela tanto um compositor quanto um educador versátil. Professor na University of Southern California’s Thornton School of Music, Ticheli construiu sua poética evitando assumir para si as predeterminações de alguma corrente de pensamento. Consolidou uma música que celebra a liberdade estilística. Diante do universo composicional fragmentário, entende que não há uma forma de compor, uma linha de pensamento dominante. Essa perspectiva lhe permite revitalizar gêneros tradicionais e direciona sua intervenção didática. Ticheli investe na formação de compositores para salas de concerto e de filmes, videogame, teatro, música para iniciantes, Rock, Folk.
Apesar de amplo reconhecimento ter sido alcançado por suas peças para banda ou grupos de sopros, Ticheli se expressa com habilidade através da orquestra. Conta 14 obras orquestrais com ou sem solista. Sua música é descrita como sendo a uma só vez “original e familiar, excitante e séria, otimista e profunda”. Sua formação deve-se aos compositores William Albright, Leslie Bassett e William Bolcom, agregando influências de várias expressões musicais, especialmente o tradicional jazz de New Orleans. Em 1991 Ticheli iniciou um momento particularmente importante de sua formação, a residência na Pacific Symphony Orchestra, que se estendeu até 1998. Com a colaboração de Carl St. Clair, o diretor e regente, desenvolveu intenso trabalho de intercâmbio criativo. Como resultado, compôs Playing with Fire em 1992, Pacific Fanfare, Postcard, On Time’s Stream e Radiant Voices em 1995, An American Dream em 1998. A última delas é uma de suas obras mais expressivas e, até então, de maior proporção, “uma sinfonia de canções para soprano e orquestra”, como diz seu subtítulo.
Com Estrelas cadentes, composta em 2003, Frank Ticheli retomou sua parceria com a Pacific Symphony a convite de Carl St. Clair. Foi encomendada para a abertura do concerto de comemoração dos 25 anos de atuação da orquestra. É sua peça mais curta. Nela são retratados lampejos intensos indo e vindo rapidamente; o compositor usa clusters de “notas-brancas” e staccati nas cordas graves para sugerir efeitos de brilho. A música evoca o brilhantismo alcançado pela Pacific Symphony em sua curta vida, pela analogia com a estrela cadente que cruza o céu, luminosa e com rapidez. St. Clair encomendou para o evento uma fanfarra curta; como já havia composto a Pacific Fanfare, Ticheli optou pela composição de uma obra que soasse brilhante, evocasse uma dança arrebatadora na qual se perde o fôlego. O motivo principal vai e vem à maneira de um festivo e agitado rondó – gênero musical em que um tema aparece como refrão. E toda a obra deriva de eventos fugazes que se tornam explosivos ao final. “Estrelas cadentes é um símbolo de minha duradoura amizade com o regente Carl St. Clair e um gesto de agradecimento pelos sete anos que desfrutei como compositor residente na Pacific Symphony”, disse o compositor.
Igor Reyer
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.