Vozes Radiantes

Franz Ticheli

(1993)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

A música de Frank Ticheli é hoje uma das mais executadas e bem recebidas pela crítica e pelo público no mundo das bandas sinfônicas e universitárias. Entre os anos de 1998 e 2003, Ticheli tornou-se, dentre todos os compositores para essa formação ainda vivos, o mais interpretado. Sua carreira como compositor orquestral não é menos satisfatória e consolidou-se principalmente durante os sete anos como compositor residente da Pacific Symphony, entre 1991 e 1998. Durante este período, marcado pela experimentação e exploração diversificada da linguagem sinfônica, Ticheli compôs especialmente para a orquestra as obras Vozes Radiantes, a versão orquestral de Cartão Postal, Fanfarra Pacific, No Fluxo do Tempo e Um Sonho Americano.

 

No dia 3 de março de 1991, o taxista Rodney King, levando dois passageiros, é perseguido pela polícia rodoviária da Califórnia após transpor uma barreira de trânsito. Uma vez apreendido e imobilizado, Rodney teria sido violentamente agredido com cassetetes e tasers (armas de choque) por cinco policiais. O ocorrido, no entanto, foi filmado e divulgado na mídia. Processados por excesso, os policiais foram julgados e absolvidos no dia 29 de abril de 1992. Suas absolvições desencadearam uma série de protestos que muito rapidamente transformaram-se em ações violentas, incendiárias e, mesmo, pilhagens. Conhecida como “os distúrbios de Los Angeles de 1992”, a revolta estendeu-se por seis dias e tomou conta da maior parte da região metropolitana de Los Angeles. Uma semana após os conflitos, Frank Ticheli, morador da cidade, dá início à composição de Vozes Radiantes, encomendada por Carl St. Clair, regente e diretor artístico da Pacific Symphony. Comovido pelos tumultos da véspera, Ticheli sente a necessidade de compartilhar, por meio de sua música, uma mensagem de esperança e alegria, de renovação e reunião com uma comunidade dividida, ferida, invadida pelos mais intensos sentimentos de revolta, insatisfação e incompreensão. Assim, em resposta aos conflitos, concebe uma fantasia dramática e poderosa, ainda que otimista e vibrante. Tudo na obra deriva das cinco notas do motivo inicial (si bemol, dó, fá, mi, sol). Como declara o compositor, são estas notas que dão unidade ao todo, posto que, do contrário, a obra seria apenas uma série disparatada de eventos em rápida sucessão. Sem jamais perder por completo sua identidade, o tema é modificado em sua direção, ordem, andamento, registro e orquestração. A multiplicidade de seções sugere uma série de eventos variados, tanto íntimos, quanto majestosos, jocosos, estilizados, jazzísticos. Para o compositor, a obra pode ser imaginada como uma viagem de carro na qual se “atravessa uma paisagem marcada pela rápida mudança de cenário”.

 

Vozes Radiantes foi estreada em fevereiro de 1993 pela Pacific Symphony Orchestra em sua sede, Segerstrom Hall, sob a regência de Carl St. Clair, maior promotor da obra de Ticheli. Publicada em 1995, tem por subtítulo Uma Fantasia para Orquestra.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

anterior próximo