Concerto para orquestra

Zoltán Kodály

(1939/1940)

Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão harpa, cordas.

 

O nome de Zoltán Kodály é frequente e injustamente muito mais associado ao método de educação musical que ele criou do que a seu trabalho como compositor. Nas histórias da música, seu nome aparece sempre mencionado ao lado do de Bartók, seu amigo e colega, com quem partilhou ideais, pesquisas e descobertas. Kodály é tido como um dos pais da Etnomusicologia, realizando, com Bartók, um trabalho de pesquisa e coleta de material musical folclórico, bem antes de a própria Etnomusicologia sequer ser concebida como ciência ou área de conhecimento. Atribuem-se a Kodály muitos predicados, mas o de compositor nem sempre é colocado no seu plano de devida relevância.

 

Não é pouco dizer que foi Kodály quem apresentou a Bartók a música de Debussy, cuja harmonia ambígua fascinava a ambos. De um depoimento do próprio Bartók, se nota a importância disso: “Kodály e eu queríamos fazer a síntese do Oriente e do Ocidente. Por nossa raça e pela posição geográfica de nosso país, que é, ao mesmo tempo a ponta extrema do Leste e o bastião defensivo do Oeste, poderíamos pretendê-lo. Isso nos foi possível graças a Debussy, cuja música acabava de chegar até nós e nos iluminava” (citado por Roland de Candé em sua História Universal da Música, volume 2).

 

Note-se que Bartók usa sempre o “nós”, ao se referir a si próprio e a Kodály como artistas criadores. Daí se depreende o respeito que o amigo e conterrâneo depositava em Kodály, como compositor, antes de qualquer outra coisa. No entanto, a música de Bartók foi tão mais determinante, do ponto de vista histórico, para a criação musical no período entre as duas grandes guerras, que acabou eclipsando a obra de seu colega e de outros compositores igualmente talentosos.

 

Em número, a obra de Kodály não é muito extensa. Duas óperas, alguma música de câmara, outro pouco de música para piano e um punhado precioso de música coral, com ou sem acompanhamento. De sua música sinfônica, destacam-se a suíte extraída da ópera Háry János e, obviamente, o Concerto para orquestra.

 

Essa obra foi composta entre 1939 e 1940, por encomenda da Orquestra Sinfônica de Chicago, para comemorar o seu quinquagésimo aniversário. Foi estreada em 6 de fevereiro de 1941, pela mesma orquestra, sob a regência de Frederick Stock. O título pode remeter o ouvinte conhecedor à assombrosa obra homônima de Bartók, composta em 1943. Nem a ideia nem o título, porém, são novos, e a obra de Kodály, junto com a de Hindemith (que data de 1925), são anteriores à dele.

 

Há que se explicar que a obra de Kodály não usa do conceito que o senso comum atribui ao concerto, como peça musical que coloca em relevo um único instrumento solista. Ao contrário, ele reelabora, aqui, um procedimento muito comum no período Barroco, em que mais de um solista despontava do corpo orquestral: o concerto grosso. É claro que, na obra de Kodály, os resultados de suas pesquisas não poderiam estar ausentes. Ele parece combinar uma arquitetura que lembra a do primeiro Concerto de Brandemburgo de Bach (dando voz, ocasionalmente, a distintos solistas destacados do corpo sinfônico) à música tradicional magiar. Se for mesmo assim, a síntese a que se referia Bartók estaria finalmente cumprida…

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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