Benjamin BRITTEN
Instrumentação: 2 Piccolos, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, requinta, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trombones, 3 trompetes, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Línguas bem maliciosas dizem que a Inglaterra jamais produziu outro grande compositor depois de Henry Purcell (1659-1695). De fato, as grandes escolas musicais europeias acabaram por eclipsar a produção musical das Ilhas Britânicas num lapso cronológico que vai do século XVIII ao século XX. Nomes relevantes, cujas obras têm um inegável valor artístico, assumem uma posição secundária, se colocados lado a lado com seus contemporâneos do continente: James Hook, Edgard William Elgar, Gustav Holst, Frederick Delius, dentre outros. No entanto, os grandes movimentos musicais do século XX trouxeram um novo sopro de criatividade à Grã-Bretanha e possibilitaram despontar nomes hoje elencados entre os mais importantes da história da música mais recente. Estão entre eles Ralph Vaughan-Williams e principalmente Benjamin Britten.
A música de Britten usa das conquistas do século XX sem rigores escolásticos e, ao mesmo tempo, sem desprezo ou descaso pela tradição musical, seja britânica, seja universal. Nesse sentido, não é equivocado aproximá-lo de atitudes estéticas que, guardadas as especificidades, são semelhantes, como a de um Poulenc, de um Prokofiev ou mesmo de um Villa-Lobos: todos esses são artistas criadores que se afastam de qualquer academismo homogeneizante e que se voltam, em maior ou menor grau, com maior ou menor ironia, às tradições musicais regionais ou universais.
Disso resulta, em Britten, uma linguagem ao mesmo tempo moderna e acessível, sem o hermetismo intelectual de certas correntes que lhe são contemporâneas e sem tampouco a responsabilidade de desconstruir ou reconstruir quaisquer sistemas. De sua obra, em nada pequena, mais da metade é dedicada à música vocal (apesar de ele mesmo ter sido um grande pianista). Nela somam-se nada menos do que quinze óperas. A primeira delas é Peter Grimes.
Britten residia nos Estados Unidos quando leu pela primeira vez The Borough, do poeta inglês George Crabbe (1754-1832), ambientada na costa da região inglesa de Suffolk (onde nascera Britten). Nessa obra se encontra Peter Grimes, poema narrativo que conta a história de um pescador acusado de ter matado seu aprendiz. De volta à Inglaterra em 1942, Britten dedica-se à composição da ópera, baseada nesse poema. Estreada em Londres, em 1945, Peter Grimes foi um sucesso de crítica e de público, e o primeiro grande triunfo de sua carreira. No ano seguinte é estreada nos Estados Unidos, sob a regência de Leonard Bernstein; nesse mesmo ano Britten funda o British Opera Group, companhia itinerante de pequenas proporções, à qual iria dedicar a maioria de suas óperas.
De Peter Grimes, a Passacaglia, op. 33b, e os Quatro interlúdios marítimos (Four sea interludes), op. 33a, foram publicados à parte, o que mostra o valor que lhes conferia o compositor. Frequentemente executados como uma suíte orquestral (às vezes junto à Passacaglia), esses Interlúdios são uma bela amostragem da música de Britten, que ainda hoje soa fresca e atual.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.