| 15 dez 2020
A magia de Carmina burana com a Filarmônica de Berlim e Seiji Ozawa
Alguns compositores, como Bach, Mozart, Villa-Lobos, são celebrados pela qualidade e quantidade de suas obras. Outros, como Carl Orff, são lembrados por uma. Embora Orff tenha escrito muitas outras peças, seu nome está intimamente ligado a apenas uma delas: Carmina burana, uma das obras do século XX mais executadas nas temporadas internacionais de concertos.
Utilizando-se de texto e elementos musicais mais associados à música medieval do que à do século XX, Orff conseguiu, nesta obra, estabelecer uma linguagem singular que une pesquisa histórica, dramaticidade e cores orquestrais próprias do século passado. Escrita para grande coro, coro infantil, três solistas e grande orquestra, Carmina burana ultrapassou todas as expectativas do próprio compositor para se tornar uma obra quase ritualística, tendo sido utilizada, além de sua intenção original, como uma cantata cênica para fins coreográficos, desenhos animados e até em comerciais de televisão.
Sua popularidade se deve principalmente à força quase animalesca de sua música direta e transparente, à simplicidade de suas melodias e harmonias, todas elas modais (em contraste com a prevalência da música atonal da época em que foi escrita) e, certamente, ao conteúdo literário primevo e “inocentemente” erótico. Com seus ritmos pulsantes, harmonias estáticas, quase inebriantes, e uma orquestração exuberante, ela é uma obra de enorme impacto, embora, paradoxalmente, de execução relativamente simples.
São várias as opções disponíveis na internet para sua apreciação. A que recomendo abaixo foi escolhida principalmente pela interpretação, de memória, do coro Shin-yu Kai, do Japão, solistas de primeira linha, como Kathleen Battle, Thomas Allen e Frank Lopardo, a fabulosa Filarmônica de Berlim sob regência de Seiji Ozawa. Esta é uma gravação ao vivo realizada no Reveillón de 1989, certamente dando, positivamente, boas-vindas ao Ano Novo que se iniciava. Quem sabe, ao escutá-la neste fim de 2020, possamos ter a mesma esperança para o ano vindouro?