Abertura 1812, op. 49

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

O diretor dos Concertos da Sociedade Imperial Russa, Nikolai Rubinstein, convidou Tchaikovsky para compor uma obra sinfônica em 1880. Embora criticado por mesclar a cultura folclórica russa com a tradição europeia ocidental, numa relação ambígua com o Grupo dos Cinco, Tchaikovsky era um compositor reconhecido. Rubinstein tinha em vista três eventos: a consagração da Catedral de Cristo Salvador, a comemoração dos 25 anos do reinado de Alexandre II ou a abertura da Exposição Industrial e Artística de 1881. Tchaikovsky optou pelo terceiro, declarando em carta a Nadezhda von Meck, sua protetora, a repugnância que sentia por esse tipo de composição:

“nada me é mais antipático que compor em função de festividades e afins. Imagine, cara amiga! O que se poderia por exemplo escrever por ocasião da abertura de uma exposição senão banalidades e passagens quase sempre barulhentas?”.

 

A Abertura é hoje uma de suas obras mais conhecidas e gravadas.

 

O ano de 1812 marca o início da derrocada do império napoleônico. A Grande Armada Francesa de Napoleão I, até então invencível, invade a Rússia para dominar toda a Europa continental. Sua vitória na Batalha de Borodino e a invasão de Moscou, em setembro, parecem confirmar a vitória francesa. Napoleão não esperava que, como os antigos cavaleiros citas, os russos deixassem Moscou completamente devastada e em chamas, usando a tática da terra arrasada. Sem mantimentos e sem capacidade de se recuperar, as tropas napoleônicas batem em retirada, destruídas pelo frio intenso e por milícias ligadas à Armada Imperial Russa.

 

A Abertura Solene 1812 foi composta entre setembro e novembro de 1880. O adiamento da Exposição deu a Tchaikovsky mais um ano para trabalhar na peça. Ele a concebeu para que fosse estreada com orquestra, banda de metais, coro e canhões na Praça Vermelha. Uma salva de 16 tiros de canhão encerraria a obra ao repique dos sinos do Kremlin e da Catedral de Cristo Salvador. Mas a primeira execução, regida por Ippolit Al’tani em agosto de 1882, ocorreu num pavilhão. Supostamente programática, a abertura expõe nas cordas – os russos? – o coral ortodoxo Deus, salva teu povo. Segue-se nas madeiras a dança folclórica No meu portão, no meu portão. Os metais anunciam o hino francês. No desenvolvimento, o tema russo nas cordas duela com o francês nos metais. O folclore russo reaparece entrecortando com nostálgicas melodias populares o embate entre russos e franceses. Sinos, canhões e Deus salve o Czar expulsam A Marselhesa, na apoteose final.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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