Richard WAGNER
Quase entrando em contradição com seus próprios preceitos, em Os Mestres Cantores Wagner parece resgatar uma tradição da ópera alemã que teve seu caminho aberto por A Flauta Mágica de Mozart e teve a sequência trilhada pelo Fidelio de Beethoven e, mais tarde, por Der Freischütz de Weber. Os elementos musicais e dramáticos estruturadores do Anel somente aparecem em Os Mestres Cantores, em sua complexidade quase prolixa, de forma rarefeita. Isso lhe confere uma acessibilidade bem maior do que as obras do Anel ou do que o próprio Tristão e Isolda, que data da mesma década. Estreada em 1868, Os Mestres Cantores de Nuremberg revela um Wagner menos preocupado em “profetizar” e construir com grandiloquência o futuro, mas mais engajado em posicionar-se a si e à sua linguagem numa tradição de que ele mesmo é herdeiro. Talvez por isso Os Mestres Cantores seja uma de suas óperas mais populares e mais interpretadas atualmente, e talvez daí a sua abertura ter se tornado uma das obras de referência do repertório sinfônico universal.
Igualmente importantes para o repertório sinfônico são certos excertos do terceiro ato: a Introdução, a Dança dos Aprendizes e a Procissão dos Mestres Cantores. Chega a ser desconcertante observar, nesses trechos (como também no todo da ópera), certa “leveza” que, principalmente se comparados a outros monumentos da obra wagneriana, parecem destoar da proposição de Drama Musical que o próprio Wagner construiu e advogou. O que deve ser considerado, porém, é que se trata de um Wagner, posto que já maduro, preocupado em sintetizar seu próprio passado musical e sua própria herança cultural, o que não deixa de ser um grande argumento para anunciar ou construir o futuro.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.