Francis Hime
Músico de sólida formação, Francis Hime assumiu o papel de um dos principais protagonistas da música popular brasileira a partir da primeira metade dos anos 1960, quando iniciou suas parcerias com Vinícius de Moraes e Ruy Guerra. Na década seguinte compôs com Chico Buarque, seu mais prolífico parceiro, um sem-número de obras-primas do cancioneiro brasileiro. Dotado de grande versatilidade, Hime trabalhou como arranjador para grandes nomes da música brasileira como Gal Costa, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, compôs ainda várias trilhas sonoras para filmes, recebendo por diversas vezes premiações em festivais de cinema. A partir da década de 1980, Francis começou a se dedicar também à escrita de obras eruditas, destacando-se a Sinfonia nº 1, Sinfonia de Rio de Janeiro de São Sebastião e a Fantasia para piano e orquestra.
“Um violão é uma orquestra vista por um binóculo ao contrário”. Foi essa frase de Andrés Segovia que Francis Hime ouviu de Raphael Rabello quando este lhe encomendou o Concerto para violão e orquestra. O violonista carioca acrescentou ainda que “cabia ao compositor sinfônico distribuir esta orquestra que existe dentro do violão para um enfoque mais amplo”. Hime, pianista de ofício e que não tinha um contato mais íntimo com o instrumento, comentou certa vez como se deu o processo da composição da obra, “passei seis anos com o violão embaixo do braço, no convívio com a complexidade que é a junção de um conjunto sinfônico com um instrumento de voz pequena, procurando me integrar na técnica violonística e em como fazer essa mistura funcionar”. Infelizmente Raphael faleceu prematuramente e o concerto ficou engavetado por alguns anos, até que, em 2008, foi realizada sua primeira audição com Fabio Zanon ao violão e a Osesp, sob a regência de Alondra de la Parra na Sala São Paulo.
Com esta obra, Francis Hime se insere em uma rica e duradoura tradição de compositores brasileiros que contribuíram sobremaneira para o enriquecimento do repertório sinfônico com violão. Desde a atitude pioneira de Heitor Villa-Lobos em 1929, quando compôs a Introdução aos Choros e depois, em 1951, o Concerto Para Violão e Pequena Orquestra, passando pela farta e imaginativa criação do eclético Radamés Gnattali com suas quatro obras para violão e orquestra (1951, 1951, 1957 e 1967), lembrando também de Francisco Mignone com seu Concerto Para violão e orquestra de 1976, além de outros nomes não menos importantes, o instrumento sempre esteve presente no imaginário criativo de nossos compositores.
Segundo o autor, o Concerto para violão e orquestra é composto de três movimentos que se caracterizam por uma integração temática com motivos recorrentes e que exploram variações melódicas e rítmicas. O primeiro movimento – Modinha – possui um caráter introdutório da obra e nele destaca-se o tratamento que é dado à célula rítmica sincopada característica do samba. O segundo movimento – Ibéria – foi composto em ritmo ternário, no clima de uma valsa, lembrando às vezes a sonoridade do violão espanhol. O terceiro movimento – Ponteio – se caracteriza pelos contrastes criados com a alternância de diferentes andamentos, à maneira de um rondó.
Celso Faria, violonista